Conservar viva a história da cidade. Baseadas nessa afirmação, tendências da arquitetura reconstroem o passado e criam novas tendências através da restauração – ou restauro – de imóveis antigos. Em Ribeirão Preto a técnica ajuda a transformar antigas residências em novos espaços comerciais que conservam vivas certas características de construção através de charmosas reformas.
O projeto arquitetônico do restaurante Napoleon, no Boulevard leva a assinatura dos proprietários Márcia Santiago, arquiteta, e seu sócio e marido Carlos Trocca. O casal decidiu manter as características antigas do imóvel, de linhas horizontais, estilo Niemeyer. Por fora, a construção com muito cimento, vidro e tijolos, transmite a idéia de blocos geométricos superpostos, em voga nos anos 50.
No interior Márcia apresentou uma proposta diferente, agregando sofisticação ao ambiente repleto de detalhes que remetem aos anos 60. A clarabóia, os pilares e a grande janela de vidro conservam as características marcantes do gênio brasileiro da arquitetura.
As restaurações são normalmente caras. Isso porque a mão-de-obra deve ser especializada e os materiais devem ter as mesmas características dos utilizados nas construções antigas. Segundo a arquiteta Thaís Maistrello, “hoje em dia podemos contar com novas tecnologias em materiais, que criam efeitos parecidos com os utilizados antigamente”.
Thais mostra as portas antigas, resgatadas de uma demolição, e empregadas em um de seus projetos: uma loja de móveis orientais.
Paredes - Juliana Vallada, arquiteta de uma loja também restaurada, conta que a maior dificuldade da obra foi encontrada na demolição das paredes. “Essas construções antigas têm paredes muito grossas. Além de difíceis de quebrar, as plantas da casa se perderam com o tempo. Não sabíamos se atingiríamos algum ponto importante de sustentação”. Para Márcia Santiago, “o fator mais importante trazido pelas obras de restauro é que elas devolvem para a cidade espaços que poderiam ser perdidos com o tempo”.

Reforma com a manutenção de ambientes

A arquiteta Thaís Maistrello conservou boa parte do ambiente externo para ajudar na ambientação com estilo da Indonésia da loja de móveis. “No quintal, a balaustrada e o lavatório combinavam perfeitamente com a idéia que tínhamos”.
Os dormentes no chão e nos batentes aumentaram a sensação de rusticidade. Já a jabuticabeira foi mantida a pedidos. “Durante a reforma, um antigo morador da casa contou que ele havia plantado a árvore e pediu para que não a derrubássemos”. Márcia sempre teve o sonho de ter um restaurante. Durante algum tempo procurou por um espaço especial, até encontrar o imóvel da Rua Marcondes Salgado, no Boulevard. “Senti que aquele era o espaço especial que eu procurava” conta. Márcia acredita que o ambiente agrade a clientela do restaurante, no entanto “isso não faz diferença. A arquitetura está acima de tudo isso”.

Funcionalidade é característica obrigatória

Embora seja importante conservar as características principais, o ambiente precisa ter funcionalidade. Márcia Santiago afirma que toda a estética do prédio foi preservada, sendo reestruturadas apenas as partes necessárias para o bom andamento dos serviços gastronômicos. O restaurante da arquiteta inovou com a transformação de uma antiga garagem subterrânea em adega. “O espaço era ideal. O imóvel já tinha o abrigo semi-enterrado, e aproveitamos. Queremos agora trazer para Ribeirão uma cave que comporte nossos vinhos”, comenta a arquiteta, que decidiu mesclar a restauração da casa da década de 60, com a decoração apoiada em mobiliário contemporâneo.
No caso da loja de móveis da Rua Altino Arantes, foram duas as principais mudanças no projeto do local. “A primeira foi no acesso. Tivemos que aumentar as portas para facilitar o entra e sai de móveis e de muitos clientes ao mesmo tempo”, explica Juliana Vallada. A arquiteta mostra a outra grande mudança, o galpão emendado à sala. “Aqui o projeto não quis camuflar a reforma, e sim criar um estilo novo. A sala original conta com paredes estruturais, ou seja, a parede sustenta a estrutura da casa. Já o espaço ao lado possui vigas no teto. Mas nem por isso, destoou do resto da casa”.

Publicação Jornal  A Cidade 07/08/05