Diante da dificuldade de encontrar quem se disponha a assumir o cargo, edifícios vão além da isenção da taxa de condomínio.
Boa parte dos condomínios faz assembleias para a eleição de síndico no próximo mês. Vem à tona um problema: encontrar um morador disposto a assumir a função, considerada a mais ingrata, porém necessária, na vida de um edifício. A novidade é que, para deixarem o cargo mais atraente, além de isentarem da taxa de condomínio, os prédios têm partido para o pagamento de bonificações - uma bolada adicional condicionada ao cumprimento de metas e boa avaliação.
Os valores variam de acordo com o tamanho do condomínio e da arrecadação. O beneficiário é o síndico e, em alguns casos, funcionários. No caso do síndico, a premiação surge como uma alternativa a um pró-labore mais elevado, comum em prédios de luxo, que chegam a pagar R$ 10 mil por mês.
Em muitos edifícios, há o medo de que o alto valor transforme o condomínio em cabide de emprego e vire uma segunda renda para o síndico sem se receber a contrapartida esperada para manutenção e valorização do imóvel. "E, para destituir um síndico, o Código Civil pede 50% dos moradores mais um", diz Hubert Gebara, vice-presidente de Administração de Condomínios do Secovi de São Paulo. Uma assembleia costuma ter a participação de 20% dos moradores.
O bônus surge então como garantia de bom serviço para os moradores e um incentivo para o síndico. No Up Side, condomínio-clube de 280 apartamentos no Paraíso, na zona sul, a professora aposentada Gilorma Ramos de Mattos, de 61 anos, foi a primeira síndica a receber uma gratificação de R$ 20 mil, em dezembro. "Fiquei feliz porque considero um reconhecimento do meu trabalho. Mas, ao mesmo tempo, me senti constrangida e muito surpresa", diz a síndica, que depois teve de lidar com uma série de críticas dos moradores ausentes à assembleia.
Aprimoramento. A figura do síndico, segundo Márcio Rachkorsky, consultor jurídico de mais de 400 edifícios, "é sempre muito polêmica e historicamente injustiçada". Quanto mais transparente a gestão, mais força na comunidade se ganha. "O perfil do síndico vem mudando. Não é mais aquele velho militar", diz Rachkorsky.
"A ideia do bônus é nova. Aumenta a transparência da gestão, mas, para dar certo, os prédios terão de aprimorá-la", afirma José Roberto Graiche, dono da administradora do Up Side. "A avaliação do síndico deve ser mais criteriosa."
Na maioria das assembleias, a análise do trabalho do síndico é feita com uma simples pergunta. Os moradores presentes levantam as mãos para concordar ou não com a gestão.
O Ilha de Capri, com 260 apartamentos em Perdizes, na zona oeste de São Paulo, caminhou nesse sentido. No fim de ano, é enviado um questionário com mais de 30 perguntas para todos os moradores. "O objetivo é medir a satisfação com o funcionamento do edifício e o trabalho dos funcionários e do síndico", diz a representante do condomínio Jussara Cunha, de 47 anos. "Em 2011, nenhum item ficou abaixo de 60% de satisfação", conta.
Avaliação. No questionário, os 20 funcionários têm seu desempenho avaliado. A partir do resultado, Jussara elege os quatro melhores. Neste ano, cada um recebeu bônus de R$ 80. "Eles ficam satisfeitos, trabalham melhor e ainda passam a ser mais respeitados."
Quando Jussara assumiu o cargo de síndico, ninguém mais do condomínio queria a função. "Temos muitos locatários, a grande maioria é estudante da PUC (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)", explica. A decisão de "pegar o abacaxi", como ela costuma dizer, veio do temor de o imóvel começar a se desvalorizar pela falta de interesse dos moradores.
No primeiro ano, Jussara recebia pró-labore correspondente a um salário mínimo, isenção da taxa de condomínio e o valor de uma assinatura de TV a cabo. Mas agora só existe bônus para funcionários, não para a síndica.
Mesmo assim, Jussara se diz satisfeita. Quando assumiu em 2009, ela era o 7.º síndico do prédio em um ano. Já Gilorma, do UP Side, foi eleita depois de uma gestão conturbada, com síndico destituído na Justiça e que pouco antes havia pedido aumento de pró-labore. "O síndico deveria trabalhar, o conselho fiscalizar e os moradores deveriam participar das decisões tomadas no condomínio", diz Gebara. Mas, como não se vive no mundo ideal, os condomínios inventam maneiras de estimular essa participação.