O crédito imobiliário deslanchou. Desde abril, o saldo total de recursos para habitação cresce a taxas superiores a 50% em relação a igual período de 2009, puxado por prazos longos dos financiamentos, juros menores e, especialmente, pela recente investida de bancos e construtoras para popularizar os empréstimos.

Já há empresas com estandes de vendas de imóveis nos supermercados. Outras anunciam empreendimentos na embalagem de pizza. Os bancos também reduziram a burocracia: cortaram de 40 para 5 o total de documentos exigidos para aprovar os empréstimos e descentralizou a aprovação do crédito, criando escritórios avançados.

Até maio deste ano, o total de empréstimos habitacionais somava R$ 102,4 bilhões, apontam dados do Banco Central, elaborados pela RC Consultores, nas várias modalidades de crédito imobiliário. A perspectiva é de que essa taxa de crescimento seja mantida até dezembro, prevê o diretor da consultoria, Fabio Silveira, ressaltando que se trata de uma estimativa conservadora. Nas suas contas, o total de empréstimos deve atingir R$ 131 bilhões no fim deste ano, ante R$ 87,4 bilhões alcançados em dezembro de 2009.

Dois dados novos sobre o crédito imobiliário que devem ser anunciados nos próximos dias ratificam essa taxa vigorosa de crescimento. A Caixa Econômica Federal, o maior banco financiador de imóveis, fechou o primeiro semestre deste ano com volume de financiamentos de cerca de R$ 33 bilhões, com crescimento de 50%.

Em maio, os recursos da caderneta de poupança destinados à habitação e contabilizados pela Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) somaram R$ 4,25 bilhões. O resultado de maio é 87% superior ao mesmo mês de 2009 e, no ano, acumula alta de 75%. Para Celso Petrucci, economista chefe do Secovi- SP, o resultado do crédito imobiliário está superando todas as expectativas, tanto é que a Abecip já revisou de R$ 50 bilhões para R$ 55 bilhões as projeções de empréstimos para 2010.

Perfil. “Estamos sentindo hoje no crédito imobiliário os efeitos da redução dos juros ocorrida em 2009″, diz Silveira. Ele observa que a taxa de crescimento elevada não se deve apenas à base fraca de comparação, mas destaca que está havendo uma mudança no perfil do crédito.

Se for considerado só o fluxo de novos empréstimos mês a mês, a participação dos financiamentos de imóveis no total do crédito a pessoa física (recursos livres) já representa 31,8% do total de novos empréstimos fechados de janeiro a maio deste ano, enquanto a fatia do crédito pessoal é de 68,2%. Já em 2009 e 2008, a parcela dos empréstimos para compra da casa própria era bem menor, de 13,5% e 17,3%, respectivamente.

“O crédito imobiliário vai crescer para todo mundo”, afirma o diretor da área de Empréstimos e Financiamentos do Bradesco, Nilton Pelegrino. O banco trabalha com a expectativa de encerrar o ano com saldo de empréstimo 35% maior que em 2009, bem superior à média do crédito em geral (20%). Às vésperas de divulgar os resultados do segundo trimestre, o Bradesco registrou um acréscimo de 180% no fluxo de novos financiamentos no primeiro trimestre em relação a igual período de 2009 e, segundo o executivo, esse desempenho vem sendo mantido.

Para agilizar a aprovação de novos financiamentos, o banco apostou em duas frentes. Criou novas centralizadoras, espécie de escritórios avançados que trabalham em parceria com as imobiliárias para aprovar o crédito mais rapidamente. Até o fim deste mês, 41 centralizadoras estarão em funcionamento, prevê Pelegrino. A Caixa é outra instituição financeira que investiu nessa estratégia. Hoje o banco tem 5.499 correspondentes imobiliários espalhados pelo País.

A outra aposta do Bradesco para a acelerar a liberação dos empréstimos foi reduzir as exigências de documentos. Quase 30 anos atrás, eram necessários 40 documentos do comprador e do vendedor para aprovar o negócio, lembra Pelegrino pelo fato de ele mesmo ter se submetido a isso quando comprou um imóvel. “Hoje são cinco. Havia documentos desnecessários.”

PARA ENTENDER - O mercado imobiliário residencial passa hoje por um boom de lançamentos e de vendas que é fruto de uma conjugação favorável de fatores. Crédito farto, construtoras capitalizadas porque abriram capital na Bolsa e arrecadaram grandes cifras para aplicar no setor, e ganhos de renda, especialmente das camadas mais pobres da população, além do déficit habitacional de cerca de 8 milhões de moradias, estão entre os principais fatores que explicam o bom desempenho. Levantamento da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp)indica que, de janeiro a maio deste ano, foram lançados 23.381 imóveis residenciais na Região Metropolitana de São Paulo, o dobro do volume registrado em igual período do ano passado. Mais da metade dos imóveis (12.101) é para a classe C e tem dois dormitórios.