Antônio Vicente Golfeto

Os homens fazem as casas e as casas fazem os homens. É um postulado dos que estudam a habitação, a residência, o lugar onde o ser humano mora. Aliás, o homem mora na casa e habita a cidade. A casa tem moradores. Quem tem habitantes é a cidade que, em termos jurídicos - mais abrangentes – se chama município.
No município, habita-se tanto a zona urbana como a zona rural. O espaço do território físico do município que se localiza dentro da linha perimétrica urbana chama-se cidade.
A casa determina o homem desde o útero materno, a primeira casa do homem ainda na condição de feto. O caminho é este: o útero, a casa, o túmulo. Aliás, apenas para aclarar, cemitério é uma palavra da língua portuguesa que vem do vocábulo grego koimeterium que quer dizer dormitório.
Diante deste fato, a casa não precisa ter conforto. Se tiver é bom. Mas não é necessário. Necessário é que ela ofereça bem estar. E para isto não precisa ser de luxo, requerer muito investimento.
O conforto é centrípeto, isto é, ele vem de fora para dentro. Ele nasce da Economia, da renda.
O bem estar é centrífugo, isto é, ele surge de dentro para fora. Ele nasce da Psicologia, da alma.
Violência é principalmente – embora não apenas – falta de espaço. Imagine você uma cobra: se você invadir sua área de segurança fatalmente você será atacado. Assim, com todos os animais, a menos que eles estejam com fome. Fora daí, a agressão virá se houver invasão de sua área de segurança - digamos – de sua privacidade.
O homem é um animal também. Que tem área de segurança, principalmente. Esta, quando invadida, desperta o chacal que existe dentro de cada um de nós. Jean-Paul Sartre, filósofo francês muito mais festejado do que lido - e muito mais lido do que entendido -dizia: “todo homem tem, adormecido dentro de si, um chacal”. O que desperta este chacal? Sobretudo a falta de privacidade. Logo, a falta de espaço.
Assim, casa que produz bem estar, ainda que sem muito conforto, é casa que tem espaço. Que produz condições mínimas para garantir privacidade a seus membros.