foto: Weber Sian/A CIDADE
Ferraz Jr.

Para alguns especialistas, trata-se do resquício arquitetônico colonial implantado no Brasil pela dominação português, que distinguia a casa grande como residência do senhor de engenho e a senzala, onde ficavam os escravos. Com a modernização da sociedade, a edícula assume a função da senzala. Localizada principalmente no fundo dos terrenos, servem para abrigar os empregados da casa, erguida na parte frontal, segundo o arquiteto José Roberto Geraldine, especializado em questão habitacional. A crise habitacional que sempre acompanhou as classes menos favorecidas do país, fizeram com que essas mesmas edículas fossem erguidas para abrigar a família enquanto a casa principal era construída aos poucos e na medida da disponibilidade financeira, na parte da frente do terreno.
De acordo com José Roberto, a edícula atende a uma população econômica situada entre um e cinco salários mínimos.
Agora, com a valorização da busca por uma melhor qualidade de vida, são muitas as famílias que buscam construir suas casas valorizando a área de lazer, principalmente quando se pensa em colocar nela uma piscina que possa refrescar o sufocante calor de Ribeirão Preto.
Nessa tendência, ocupar o terreno com a menor área útil construída em favorecimento dos espaços para jardins e lazer é cada vez mais uma prerrogativa de quem busca a tão sonhada boa qualidade de vida.
A figura da edícula pode corresponder a essa necessidade. Já há exemplos disso em Ribeirão Preto. O problema é que como a edícula, construída no fundo do terreno, tem uma função secundária ou de suporte para o resto da casa, tê-la como moradia principal acarreta em alguns inconvenientes que podem representar inclusive aumento do consumo de energia. Segundo a arquiteta Ruth Paulino, doutora em conforto ambiental, optar pelas edículas requer orientação de profissional que possa fazer um planejamento adequado. “Nos fundos de um terreno, a edícula fica restrita a ter sua entrada apenas em uma das faces, o que dificulta a circulação de ar e até mesmo a iluminação natural”, analisa a especialista.
“Não é porque é edícula que tem que ser ruim. Há espaços pequenos que cumprem muito bem a função de servir de moradia para permitir melhor utilização do terreno como área de lazer”, afirma. Ela ressalta que qualidade envolve tudo, desde a concepção do espaço ao material utilizado, cuidados com a insolação, percepção da direção do vento que permite otimizar a ventilação do espaço, etc.
Construída nos fundos de um terreno, a edícula ao lado revela a intenção explícita de seus moradores em valorizar área de lazer, com construção de varanda ampla e área de piscina. Como diagnosticou a arquiteta, a edícula, embora aconchegante, sofre dos problemas apontados por ela de ventilação e iluminação. Dois ventiladores e um ar-condicionado foram instalados para garantir boa ventilação e espantar o calor abafado dentro da edícula.” Há um gasto de energia que poderia ser evitado se a edícula tivesse sido construída no meio ou na frente do terreno.
Outro custo que pode ser evitado, avalia, é com as instalações. “No fundo do terreno, a edícula vai exigir mais encanamento de água e esgoto e fiação elétrica, ou seja, são muitos os inconvenientes que podem ser evitados com melhor planejamento”, assegura.
Por outro lado, uma edícula pode levar seus moradores a promover a ampliação da área construída. “Espaços pequenos pedem ampliação com qualidade para que não fique com ar de puxadinho”, conclui.