Os provérbios são a sabedoria do gênero humano. Podem não ser legais. Como muitos que conhecemos. Mas são legítimos, lídimos. O que faz o legal é a lei. Já o que torna algo legítimo é o tempo. E a legitimidade é muito mais importante do que a legalidade. Vejamos um destes provérbios: quem não deve não teme. Vejamos outro a partir deste: quem não deve não tem. Sim, porque o crediário foi produzido exatamente para atender aos desejos de consumo de uma sociedade cuja marca característica é o crescimento, o aumento do hedonismo.
Pode-se fazer, grosso modo, dois tipos de dívida. Uma para consumo. Outra, para aquisição de bens de capital, aí incluídos os bens de consumo durável como os veículos. Evidente que a compra de bens, de mercadorias, de serviços para consumo tem crescido na medida em que se concorda com um fato: o crédito é a mais nova e talvez até a mais eficaz forma de moeda. Os conservadores, entretanto, nem sempre aconselham o apelo ao crediário. E sugerem, caso o consumidor – digamos – esteja pretendendo comprar a prazo uma geladeira, a não fazê-lo. Se for dar uma importância financeira de entrada e dividir o restante em seis prestações mensais, pagando juros, o consumidor será aconselhado certamente pelo conservador a guardar as prestações, aplicá-las em uma das modalidades oferecidas no mercado financeiro - a caderneta de poupança é a mais popular – e, completado o período de seis meses, comprar a geladeira. Banqueiro fica rico porque recebe juro. Não paga juro.
E mais: quem tem dinheiro e compra a vista normalmente comanda o negócio ao passo que, quem compra a prazo, normalmente tem a transação dirigida por quem vende.
Não é o caso, contudo, de compra de bem de capital. Máquinas para empresas são um exemplo. Imóvel é outro. Fiquemos com este caso. Ao adquirir, por exemplo, um imóvel para morar – caso queira comprar uma casa para se livrar do aluguel e ainda acomodar sua família – o investidor em imóveis será tomador de empréstimo, estará recorrendo a um financiamento. Aí o conservador que desaconselhou a compra da geladeira pelo sistema de crediário estará aprovando a medida porque se trata, na verdade, de um investimento. Estamos falando da aquisição financiada de uma residência.
O cálculo é simples. Além de morar na sua própria casa, o comprador estará sim assumindo o ônus do pagamento do financiamento. Mas, ao mesmo tempo, estará livre do aluguel cuja correção não raro pode superar a correção do financiamento. Mais: quando tiver que investir para conservar a casa onde mora estará aplicando em imóvel seu que ainda poderá ser valorizado se a compra for por importância favorável.
Comprando imóvel financiado o investidor produz um passivo, sim. Ele passa a ter uma dívida. Mas produz também um ativo, a casa.