A presença de um acampamento de trabalhadores sem-terra no Parque dos Flamboyants, em Ribeirão Preto, provoca um movimento de êxodo naquele bairro. A informação é de Maria Ferreira de Souza, presidente da Associação dos Moradores do Parque dos Flamboyants.
“O número de placas de vende-se aumentou muito. Por mais que a gente se reúna, repasse a informação oficial da Prefeitura, de que o acampamento é provisório, muita gente acha que ele virou uma favela e que o pessoal não sai nunca mais”, revela Maria Souza.
O acampamento “Mário Lago”, do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra), ganhou autorização da Prefeitura para ocupar uma área do Parque dos Flamboyants, destinada originalmente para a instalação de uma praça. O primeiro local do acampamento dos sem-terra foi o sítio Braghetto, invadido em 2 de agosto de 2003.
Em 15 de novembro parte dos acampados ocupou o parque “Maurílio Biagi”, como forma de pressionar o Poder Público a indicar uma área alternativa, uma vez que o MST fechou acordo na Justiça para deixar o sítio Braghetto. Cinco dias mais tarde, em 20 de novembro, todos os acampados se transferiram para o Parque dos Flamboyants.
Além de muitos moradores estarem colocando suas casas à venda, com medo de uma grande desvalorização se o acampamento se transformar mesmo numa favela, Maria Souza diz que algumas casas financiadas estão desocupadas.
“A gente escuta estórias de famílias que estariam vindo conhecer uma casa, na entrada do bairro já dão de cara com o acampamento, que parece uma favela, e mudam de idéia. Pelo menos uma empresa parou as obras de casas, alegando que não estão conseguindo mais vendê-las e que vão transferir as obras para outros bairros”, afirma.
Quando da instalação do acampamento no Parque dos Flamboyants o secretário municipal de Governo, Newton Mendes Garcia, disse que a autorização tinha caráter provisório. O coordenador do acampamento, Edivar Lavratti, disse em entrevista que as famílias permaneceriam no local de “trinta dias, na melhor das hipóteses, a seis meses , na pior das hipóteses”. Ontem a reportagem não conseguiu contato com Lavratti.
Creche
Por entender que o desenvolvimento do bairro está sendo prejudicado, ainda que temporariamente pelo acampamento do MST, a Associação dos Moradores do Parque dos Flamboyants reivindica da Prefeitura a construção de uma creche. “Temos mais de trinta crianças cujas mães não podem trabalhar fora por não ter onde deixá-las”, informa Maria Souza. “No início de fevereiro começa a funcionar uma escolinha da Prefeitura no Residencial Ouro Branco, aqui perto, mas não conseguimos acertar o transporte. Na semana que vem vamos nos reunir com representantes da Secretaria Municipal da Educação para tentar resolver o impasse”.
Ela conta ainda que o bairro cadastrou 38 pessoas no Programa “Ribeirão Trabalhando na Frente” mas que nenhum deles foi convocado. “E muita gente que fazia bicos em construções aqui mesmo perdeu o trabalho, a situação está muito difícil”, reclama a presidente da Associação dos Moradores do Parque dos Flamboyants.