O ano de 2006 foi favorável para quem quis comprar um imóvel: juros em queda, financiamentos em alta e um "pacote de bondades" do governo para a construção civil aqueceram o segmento imobiliário e, em muitos casos, aproximaram as prestações do valor do aluguel.

Na opinião de Fábio Rossi Filho, diretor de marketing da imobiliária Itaplan, em 2006, houve retomada do mercado.

"O setor foi beneficiado por novas opções de financiamento, de parcelas fixas, juros menores e prazos maiores", diz. Mas, na ponta do lápis, quem investiu suas economias em um imóvel neste ano realizou um bom negócio?

A resposta não encontra consenso entre especialistas. Na avaliação do professor Ricardo Rocha, do Laboratório de Finanças da USP (Universidade de São Paulo), só grandes empresas que empreenderam na fase da construção lucraram.

"É muito difícil uma pessoa física ganhar dinheiro com imóveis. Geralmente, quem consegue isso são especialistas, que garimpam melhores oportunidades, e quem tem muito dinheiro e quer diversificar aplicações, usando gestão imobiliária profissional", explica.

Assim, embora o rendimento dos ativos imobiliários tenha sido impulsionado por medidas de incentivo à construção civil, como redução de impostos, e pela queda da Selic, ele é inferior ao de outras aplicações.

"A compra da casa própria no Brasil não é investimento, é sonho. Em muitos casos, a pessoa imobiliza o dinheiro porque, se o tivesse em um fundo, ficaria tentada a gastar", diz Rocha.

Foi movida pelo sonho que a gerente de projetos Adriana Daghom, 32, financiou neste ano um dois-quartos no Jabaquara (zona sul). "É um dinheiro investido, e não jogado no lixo [como no aluguel]", justifica.

Aluguel

Para o economista Miguel de Oliveira, vice-presidente da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças), o negócio imobiliário em 2006 valeu a pena, tanto para quem comprou para revender como para alugar, sob análise de uma perspectiva de médio prazo.

"Se aplicasse no mercado financeiro, teria remuneração de cerca de 1,2% ao mês. Com imóvel, a taxa de retorno é de 0,6%. Não perdeu, mas ganhou menos. Só que, por ter comprado mais barato, a tendência é que recupere em pouco tempo."

Segundo Oliveira, a expectativa é que os bancos ampliem as linhas de financiamento, e o aumento da procura leve a um encarecimento dos imóveis.

Sobre a locação, o economista diz que o crescimento do país aponta para aquecimento do mercado, inclusive de flats.

Com os índices de inflação bem comportados, o preço do aluguel se manteve constante em 2006. "Proprietários com locatários que pagam em dia preferiram nem reajustar", afirma Rocha. O que ficou salgado foi o condomínio, encarecido por aumentos de tarifas públicas e falta de provisão para encargos trabalhistas.

Folha S. Paulo - 31/12/06