Evandro Spinelli

O número de imóveis vendidos em Ribeirão Preto no ano passado foi menor do que em 2002, mas o valor médio das negociações foi maior. Os dados fazem parte de um estudo feito pelo Instituto de Economia da ACI-RP (Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto) com base em informações dos cartórios de registros de imóveis de 85 cidades da região. Em Ribeirão, o valor médio das escrituras passou de R$ 35.702,89 em 2002 para R$ 41.624,49 no ano passado, mais 16,59%.
Já o número de escrituras registradas nos dois cartórios caiu 7,77% entre 2002 e 2003 -de 10.083 para 9.299. No total, os cartórios registraram movimentação de R$ 381,1 milhões em 2003 contra R$ 360 milhões do ano anterior.
Considerando apenas a média, a escritura mais cara foi registrada em setembro: R$ 53.049,06. Em outubro, por outro lado, foi a mais barata: 36,882,26.
O diretor do instituto de economia, Antônio Vicente Golfeto, diz que esses dados apontam para uma concentração de renda. “Isso é renda concentrada. Demonstra que, mesmo numa crise, os imóveis não perderam valor”, afirma.
Outro indicativo dos números é que a população de mais baixo poder aquisitivo não teve condições de manter as negociações de imóveis, coisa que só os mais ricos conseguiram.
“O primeiro estágio da crise é a concentração de renda. O segundo estágio é a perda de renda da sociedade. O terceiro é a diminuição da riqueza. Estamos no segundo estágio e só não passamos para o terceiro porque a coisa que o brasileiro mais gosta de investir, que são os imóveis, não perderam valor”, afirma Golfeto. O diretor da imobiliária Fortes Guimarães, Carlos Henrique Fortes Guimarães, diz que o mercado de imóveis de médio e alto padrão, que é a especialidade do estabelecimento, manteve-se sem grandes oscilações no ano passado. “Para nós, transcorreu normalmente o mercado”, afirma Guimarães. Ele aponta, no entanto, outro dado interessante, de que houve uma corrida dos investidores à compra de imóveis em 2002, a partir do momento em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a liderar as pesquisas de intenção de voto.
“O pessoal ficou com medo do que poderia acontecer quando o Lula tomasse posse, algum confisco ou coisa assim. Depois que o Lula foi eleito, todo mundo ficou esperando. Passou um tempo, o mercado voltou ao normal”, afirma o empresário.
Na região, o fenômeno que aponta para um maior valor médio dos imóveis transacionados também se repetiu. Porém, o número de escrituras registradas também cresceu entre 2002 e 2003. Na média, o valor das escrituras registradas foi de R$ 26.555 contra R$ 19.998 do ano anterior, 32,79% a mais. O número de escrituras registradas passou de 49.860 em 2002 para 51.003 no ano passado, um crescimento de 2,29%. do que em Ribeirão, embora o imóvel tenha praticamente metade do valor de mercado dos negociados em Ribeirão. Percebe-se que a valorização do imóvel foi maior na região “A terra é mais barata porque é agrícola, mas houve maior valorização porque o valor do imóvel está indexado ao produto agrícola ao qual ele está atrelado”, explica Golfeto.

Condomínio foi vendido em três dias em São Carlos
Um dado que demonstra como se manteve aquecido o mercado de imóveis de alto padrão, apesar da retração no volume de negócios, é a notícia de que, em São Carlos, um condomínio fechado com lotes vendidos a partir de R$ 60 mil foi totalmente vendido em três dias.
“Eles colocaram à venda numa quinta-feira à noite e quando chegou o domingo já não tinha mais nenhum lote para ser vendido”, diz Paulo Fernando Grillo Barnabé, proprietário da Center Imóveis. Segundo ele, o fato ocorreu no final de 2002, mas que aconteceria o mesmo se fosse no ano passado.
Barnabé diz que o volume de vendas de imóveis na cidade, de forma global, caiu bastante no ano passado, mas confirmou que houve uma tendência de aumento no valor médio das negociações. Este ano, no entanto, a procura por negócios no mercado imobiliário está maior.
O corretor afirma que as pessoas de mais baixo poder aquisitivo estão fazendo cada vez menos negócios com imóveis. Além disso, houve na cidade uma série de entregas de imóveis populares, como os construídos pela CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano), do governo do Estado.
“Entregarem uns mil imóveis em São Carlos. Será que nenhuma dessas famílias ia fazer negócio com imóveis nesse período? Isso foi bom para as pessoas e bom para a cidade, mas prejudicou um pouco o nosso mercado”, diz.