Expansão da Zona Sul sem planejamento de praças deixa bairros inteiros sem previsão de áreas públicas de lazer.

A expansão de Ribeirão para a Zona Sul foi feita sem a reserva obrigatória de espaços para praças em bairros como o Jardim Botânico e a região da avenida João Fiúsa. Não há sequer um projeto que contemple uma praça na avenida e em seu prolongamento, além do Jardim Irajá até o Jardim Botânico. As outras principais vias que dão acesso aos bairros da região também foram criadas sem praças.

A afirmação é do engenheiro Lucas Miranda, da Secretaria de Obras Públicas e Particulares da Prefeitura de Ribeirão Preto. A única área que pode ser chamada de praça é a rotatória das avenidas João Fiúsa e Adolfo Bianco Molina. Há também áreas verdes no canteiro central das avenidas e nas entradas dos condomínios horizontais.

O tema provoca preocupação em quem passa pela área e percebe o crescimento urbano através de condomínios. De acordo com o Código de Obras do município, os condomínios são obrigados a destinar 20% de seu território para área verde, de uso comum da população. Este percentual pode estar metade na parte interna e metade na externa do condomínio.

A professora de geografia Ana Júlia Peres desistiu de fazer caminhada no Parque Luis Carlos Raya por achar o local impróprio para esta atividade. "A gente fica exposta ao sol durante todo o momento e, quando quer parar para descansar, não tem uma sombra", reclamou.

Ela desenvolve projetos de combate ao aquecimento global e de cultivo de áreas verdes na cidade, incentivando os alunos a se dedicar cada vez mais ao tema. "O verde hoje em dia tem que ter prioridade, sempre. No condomínio onde moro tem bastante, por isto sei da importância de tratar do assunto".

A mesma reclamação tem o vendedor de caldo de cana Anselmo Borges da Silva, que trabalha em frente ao parque desde sua criação. "Tirando o parque, realmente eu não percebo praça nenhuma aqui. Tudo está sendo tomado pelos prédios", disse.

A reportagem da Gazeta percorreu as principais avenidas da região e constatou que não há, pelo menos identificada, alguma área destinada a construção de praças nas avenidas João Fiúsa, Wladimir M. Ferreira e Carlos Eduardo Consoni.

Na única placa que indica uma praça, fixada em uma rotatória no início do prolongamento da avenida João Fiúsa, chamada "Mister Blitz", não há bancos, passeios para pedestres ou árvores.

Atualmente, quatro praças estão em processo de licitação para a construção e deverão ser entregues no início do ano que vem: duas na Ribeirânia, uma no Alto do Ipiranga e outra no Jardim Progresso.

O engenheiro Miranda revela que priorizar as áreas mais carentes e com terrenos destinados à construção de praças há mais tempo é uma ordem do prefeito Welson Gasparini (PSDB).

"Existem terrenos que são destinados para as praças que estão lá abandonados, servindo para que a população jogue lixo, há quase dez anos", falou.

Miranda entende que as avenidas da Zona Sul são um local de construções recentes e que ainda pode ser beneficiada pelas áreas verdes.

Área verde não precisa ser praça

Na opinião do arquiteto José Luis de Almeida, chefe da Divisão do Sistema Viário, as questões sobre áreas verdes sempre geram debate acalorado quando novos empreendimentos começam a sair da planta. Ele destaca que o poder público em todas as cidades está mais rigoroso com o tema, tornando indispensável um projeto que se encaixe dentro das leis de criação e preservação de áreas verdes.

"Área verde não significa necessariamente praça. Os projetos que estão chegando dos condomínios atendem a todos os requisitos em relação a obrigação de ter o verde, mas isso só será percebido quando se formar", explicou.

O arquiteto usa como exemplo o Parque Luis Carlos Raya, localizado no Jardim Botânico, que ainda tem vegetação em início de formação.

"Ainda dá a impressão de que o parque é carente de áreas verdes, mas, conforme o tempo passar, vamos ver como o local será arborizado e cheio de opções de verde".

Ele destaca que a preocupação com o meio ambiente está presente em todas as autorizações de projetos em andamento nas secretarias da Prefeitura.

"Área verde tem que existir de qualquer jeito. Quando bairros novos na periferia da cidade começaram a ser construídos, a impressão que tínhamos ao olhar aquilo era a mesma: parecia um deserto. Hoje, observamos lugares como o Quintino Facci e o José Sampaio, que estavam em início de formação quando cheguei a Ribeirão Preto, e estão arborizados, com praças e tudo mais", comparou, argumentando que esta pode ser a mesma impressão ao olhar o crescimento dos condomínios na Zona Sul.

PAULO SILVA