EDSON VALENTE

A mais temida vilã de quem pretende financiar um imóvel --a alta taxa de juros do crédito bancário-- começa, aos poucos, a parecer menos ameaçadora. Segundo economistas e os próprios bancos, ela seguirá em queda graças ao baixo índice de inflação registrado neste ano e à concorrência acirrada entre os bancos.

Desde o ano passado, o valor dos juros diminui, enquanto o montante de dinheiro destinado à compra de imóveis aumenta.

"Vamos entrar em um momento de quedas mais acentuadas e de maior facilidade na obtenção de crédito", afirma o economista Miguel de Oliveira, vice-presidente da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).

"Com inflação baixa, os bancos terão competição acirrada na disputa pelo cliente. Chegaremos a taxas de 8% ou 9% ao ano para todo o período de financiamento, e não só para os três primeiros anos [como planos do HSBC, Nossa Caixa e Unibanco já oferecem]."

Oliveira prevê que "o grosso" das melhorias despontará em 2007. "Quem puder deve esperar o ano que vem para financiar."

O vice-presidente do Ibef (Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças), Keyler Carvalho Rocha, 66, diz concordar que as taxas vão diminuir --"ainda são elevadas"--, mas recomenda que o compasso de adiamento seja ponderado com outros fatores.

"Se esperar muito, não vai comprar nunca, pois todo ano as taxas cairão mais um pouco", avalia. "E o preço do imóvel pode subir."

Mais dinheiro

Outra boa notícia é que, a cada ano, aumenta o montante disponível para crédito imobiliário.
Os empréstimos concedidos utilizando recursos da poupança, para construtoras e mutuários --que abocanham a maior fatia-, cresceram 60% de 2004 a 2005: de R$ 3 bilhões para R$ 4,79 bilhões, segundo a Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário).

Em 2006, o ritmo é o mesmo. No primeiro bimestre, essas aplicações somaram R$ 948,6 milhões, 84% a mais que nos dois primeiros meses de 2005.

Carlos Eduardo Duarte Fleury, 47, superintendente-geral da Abecip, lembra que o primeiro bimestre é desaquecido para os negócios imobiliários e que a meta de aplicar R$ 8,65 bilhões com recursos de poupança neste ano deverá ser cumprida. Os bancos precisam empregar 65% desse tipo de recurso em crédito imobiliário.

A fome para financiar, forma de vínculo de longo prazo com o cliente, reflete-se em taxas menores e novas linhas de crédito.

Assim, os bancos passam a ampliar as faixas de preço abarcadas pelas melhores condições de crédito. "Os privados estão chegando perto dos valores mais baixos viabilizados pela Caixa [Econômica Federal], no patamar de R$ 40 mil ou R$ 50 mil", dimensiona João Crestana, 51, vice-presidente de incorporação imobiliária do Secovi-SP (sindicato da habitação).

Obstáculos da classe média

Hoje, o valor médio do imóvel financiado pelo SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo), de R$ 80 mil, está bem distante do preço médio do adquirido por consórcio (R$ 54 mil), outra opção muito procurada pela classe média e que tem crescido mais que o financiamento pelo SFH (Sistema Financeiro da Habitação).

A classe média, por sinal, é o grande público-alvo dos bancos privados hoje, na percepção de Oliveira. Ainda há, porém, obstáculos a serem transpostos para que o dinheiro chegue mais facilmente ao comprador.

Para Luiz Antonio Rodrigues, 62, diretor de crédito imobiliário do Itaú, o mais árduo deles é o comprometimento de renda.

"O cliente tem pouco capital para a entrada, e o percentual de financiamento do valor do imóvel ainda não aumentou."