Alto valor praticado em Ribeirão Preto faz investidor preferir comprar em cidades como Jardinópolis e Brodowski

Por causa da migração, Jardinópolis baixou decreto vetando o surgimento de novos loteamentos na cidade

O alto valor imobiliário e a perda de características de cidades tipicamente interioranas, como a segurança, estão fazendo com que ribeirão-pretanos se mudem para cidades vizinhas.

Enquanto em Ribeirão Preto o preço do metro quadrado chega a R$ 5.000 na zona sul, área de expansão, nas cidades da região o valor médio de área construída nos bairros mais procurados por moradores de Ribeirão gira em torno de R$ 2.800.

Esse movimento é registrado em cidades como Jardinópolis, Brodowski e Cravinhos.

O êxodo de ribeirão-pretanos para Jardinópolis fez com que o prefeito José Antônio Jacomini (PPS) proibisse, por decreto, novos loteamentos na cidade no ano passado.

"Em cinco anos, o número de loteamentos aumentou 30%, mas não temos infraestrutura para tanto", afirmou o secretário de Obras da cidade, Jorge Saquy Sobrinho.

A liberação de novos loteamentos somente será feita após a construção de uma estação de tratamento de esgoto, no ano que vem.

Na cidade, o valor médio do metro quadrado em terrenos é de R$ 80 -em Ribeirão, o preço é de cerca de R$ 1.500.

Segundo o secretário, há quatro pedidos oficiais de loteamento sem aprovação, todos na vicinal Arthur Costa Curta, que liga Jardinópolis à rodovia Anhanguera, via de acesso para Ribeirão Preto.

Em Jurucê, distrito do município, há ainda outros dois pedidos, também sem aprovação por conta da falta de infraestrutura. Mas, a psicóloga Vanessa Tubeto, 38, encontrou um terreno disponível no bairro Acácias e, depois de pesquisar o preço em Ribeirão, decidiu se mudar para Jurucê.

Ela e o marido tinham R$ 180 mil para investir na construção da casa própria -mas o valor foi insuficiente para erguer o imóvel em Ribeirão.

"Minha casa tem três quartos, área de lazer, garagem para dois carros. Não conseguiríamos construir igual em Ribeirão", afirmou.

Ela disse ainda que fica segura com o fato de o filho brincar na rua onde moram, por não ser movimentada.

Já em Brodowski, 80% dos compradores dos lotes no Parque Residencial Verona são de Ribeirão Preto, segundo a WP Construtora.

A consultora de imóveis Sueli Machado, de Brodowski, confirma a tendência e diz que 90% de seus clientes são ribeirão-pretanos.

Em junho, o dono de uma agência dos Correios se mudou da avenida João Fiúsa, área nobre de Ribeirão, para a pacata Brodowski.

"Essa migração demonstra que Ribeirão não é mais a sede urbana da região", disse José Antônio Lanchoti, arquiteto e urbanista da Secretaria do Planejamento de Ribeirão e morador de Brodowski.

Segundo ele, a qualidade de vida é maior, além de o clima ser mais agradável e de não existir pedágio entre a cidade e Ribeirão.

A migração também ocorre em Cravinhos, especialmente para os novos condomínios no bairro Acácias. O representante comercial Ricardo Scozzafave, 56, construiu há oito meses a casa onde mora no Acácias Village.

"Na época em que construí, a diferença dos gastos que eu teria em Ribeirão chegava a 25%." Hoje, o seu imóvel é avaliado em R$ 700 mil.

Ex-moradores ainda dependem de Ribeirão

Embora tenham optado por se mudar para as cidades vizinhas, moradores de Ribeirão Preto dizem que ainda dependem da cidade, principalmente para fazer compras e para o lazer.

"Gosto de sair à noite com meu marido, principalmente para restaurantes, e sempre optamos por Ribeirão", diz a dentista Fabíola Pereira Mattos, 32, que se mudou para Jardinópolis.

Ela diz que ainda mantém o consultório em Ribeirão, por conta do fluxo de pacientes que atende. "Não acredito que eu teria mais sucesso na minha profissão em Jardinópolis. Lá é meu descanso", afirma.

No ano passado, o casal decidiu se mudar de Ribeirão em busca de segurança e contenção de gastos -o antigo apartamento respondia por quase toda a renda mensal dela.

Situação semelhante acontece com a psicóloga Vanessa Tubeto, 38, que se mudou para Jurucê.

A sede da empresa dela, voltada para eventos, continua em Ribeirão, assim como a escola do filho e os médicos da família.

Já a professora Heloísa Scozzafave, 54, até tentou, mas não conseguiu encontrar outra manicure em Cravinhos, onde mora há oito meses com o marido.

"Shoppings, restaurantes, barzinhos. Não há como negar, ainda há essa dependência [de Ribeirão]", disse o representante comercial Ricardo Scozzafave, 56, marido da professora.

METROPOLITANA

Para o pesquisador de mercado e consultor de empresas Dirceu Tornavoi de Carvalho, diretor técnico da Mercadotecnia, a região de Ribeirão tem se caracterizado por ser metropolitana.

"O benefício é morar em um lugar mais tranquilo e desfrutar do que Ribeirão oferece e as outras cidades menores não têm", afirmou.

O arquiteto e urbanista José Antônio Lanchoti, da Secretaria do Planejamento e Gestão Pública, tem a mesma opinião. "Tudo está caminhando para que se crie a região metropolitana."

 Setor em Ribeirão diz que migração ainda é 'pequena'

Representantes do setor de imóveis em Ribeirão Preto confirmam a existência da migração para a região, mas defendem a existência maior de um movimento contrário.

"No ano passado, 35% do total das minhas vendas foram para moradores da região", afirmou João Paulo Fortes Guimarães, um dos donos da imobiliária que leva seu sobrenome.

Geralmente, segundo ele, os moradores da região procuram imóveis na zona sul de Ribeirão, onde há casas que podem valer até R$ 5 milhões.

Antonio Marcos de Melo, delegado do Creci (Conselho Regional de Corretores de Imóveis) em Ribeirão, considera as migrações existentes como "casos isolados".

"Os ricos não saem de Ribeirão, que tem gastronomia, vida noturna", afirmou o delegado a Folha.

Dirceu Tornavoi de Carvalho, da Mercadotecnia, também diz que a migração se dá por uma "pequena parcela" de moradores de Ribeirão.