Antônio Vicente Golfeto


As regiões brasileiras – que, em muitos casos, têm dimensões territoriais até maiores do que muitos países – não têm estatísticas próprias confiáveis. Mesmo o país tem poucas. E com grandes espaços entre umas e outras, o que:
1- Dificulta qualquer análise técnica;
2- Faz tropeçar qualquer tentativa séria de planejamento.
Fiquemos com o chamado déficit habitacional do Brasil. A respeito dele há números para todos os gostos.
Dizem que as cidades do nordeste paulista – umas mais e outras menos – também têm déficit habitacional. Daí as favelas, os cortiços, as habitações em condições sub-humanas.
Tudo verdade embora não toda verdade.
Você já andou pelas ruas da cidade onde você mora e mesmo as que visita e cansou de ver placas de “aluga-se”, não é verdade? Claro que já viu. Então, o que se nota é uma quantidade não desprezível de residências térreas, apartamentos, salas-para-escritório, salões comerciais, galpões para indústria à disposição de quem quiser locá-los. Eles formam a matéria prima do mercado de locação, atividade econômica situada no segmento de serviços de importância muito acentuada. Eles tendem a equilibrar o preço dos aluguéis, item importante quando se pesquisa custo-de-vida.
Deixemos de lado as locações não-residenciais. Fiquemos apenas com as casas, os apartamentos, enfim com as moradias. É que as locações não-residenciais evidenciam a realidade empresarial, de crescimento ou de crise.
O estoque de imóveis residenciais vazios, quando cotejado com o déficit habitacional existente, representaria um redutor na insuficiência de oferta de residências. O que ele evidencia, quando é crescente, juntamente com a expansão do déficit habitacional? Mais ou menos o seguinte: a- que se agrava a concentração de rendimentos; b- que muitas famílias estão se unindo em termos residenciais. Vale dizer: a crise está obrigando algumas famílias a fazerem ajustes, isto é, irmãos morarem com irmãos, com pais, com sogro, com sogra, com o objetivo de reduzir despesas a começar pelos custos habitacionais.
As famílias sempre fazem ajuste antes que as empresas. Estas seguem as famílias até porque as empresas brasileiras, em sua maioria, têm a marca de serem familiares. Em decorrência disto, as empresas reduzem custo inclusive a partir de corte de gastos com instalações, buscando menores despesas. Muitas encerram atividade, o que acentua o aumento da oferta de imóveis para alugar.
A oferta de imóveis não-residenciais para alugar é um indicador econômico com conseqüências sociais.
A oferta de imóveis residenciais é um indicador social mas com causas econômicas.
Ambas precisam de ser analisadas sobretudo em cotejo com o deficit habitacional, quando se trata de residências vazias. E em comparação com a produção, naturalmente o PIB, quando se trata de imóveis para locação industrial, de serviços ou comercial.
Os “aluga-se” que você vê mostram uma realidade do mercado de locação, mas escondem uma crise que carece de ser decodificada.