Economia do campo. Preço da terra cai 9% em três anos na região de Ribeirão; crise da cana estaria levando os valores para baixo.  O preço das áreas rurais na região de Ribeirão Preto caiu 9% em três anos, indo na contramão do País, que registrou aumento de 21,31% de acordo com pesquisa realizada pela AgraFNP, empresa de consultoria técnica e econômica voltada para o agronegócio. A queda é confirmada por corretores de imóveis da cidade.
Para a analista de terras da Agra, Jacqueline Bierhals, “o setor sucroalcooleiro atua puxando os preços para baixo e a tendência é que 2009 seja um ano parado para o mercado de terras”. “Dificuldades no setor estão levando produtores de cana a se desfazerem da terra para fazer caixa”, diz.
A queda se tornou mais perceptível, segundo Jacqueline, no último ano. “Mas a partir do início de 2009 o ritmo caiu um pouco e a tendência agora é de estabilização, até porque o proprietário diminui o preço de sua terra até um certo limite”, afirma.
Pelos números divulgados, o hectare que custava R$ 20.887 em junho de 2006 hoje é comercializado por R$ 19 mil —queda de R$ 1.887. Para Fabrizio Campos, da Imobiliária Santa Maria, muitos criadores de gado arrendaram suas terras para a produção de cana ao longo dos anos, e quando houve a retração no setor tiveram de vender as fazendas. “Recebemos proprietários oferecendo suas terras por preços abaixo do mercado, para poderem se capitalizar”, afirma.
Na opinião do corretor de imóveis José Martins, a queda é real e chega a 20% em relação a 2008. “O problema começou há um ano e meio, inicialmente devido a crise do açúcar e do álcool”, acredita. “Depois veio essa crise mundial e os compradores sumiram, obrigando quem quer vender a baixar o preço.” José Castro, da Imobiliária Pirâmide, lembra que “o lucro dos produtores de cana caiu muito e para ter liquidez vários optaram por se desfazer das terras”. Na sua opinião, parte desses recursos acabaram no setor imobiliário urbano. “A opção foi adquirir casas e apartamentos na cidade.”
A pesquisa indica que na região as terras ocupadas pela cana só perdem para as áreas com laranja, que tiveram queda de R$ 6,6 mil por hectare nos últimos 36 meses.
EM QUEDA
R$ 1,8 mil foi a desvalorização do hectare da terra nos últimos três anos.
Acesso a crédito é problemático
O economista João Marino, da Unaerp, mostrou surpresa com a pesquisa da AgraFNP. Para ele, o setor sucroalcooleiro viveu um momento de euforia e, teoricamente, não teria pressionado a queda no preço das terras. Mas aponta alguns problemas que podem ter surgido, como a falta de liquidez na economia. Marino lembra que, apesar do Governo Federal ter criado dispositivos para os financiamentos, alguns setores agrícolas tiveram dificuldade de acesso ao crédito. “Isso pode ter provocado a busca por uma formas de conseguir recursos”, analisa. “Também tivemos período de taxas de juros altas por um tempo.” Outro fator que, para o economista, pode ter levado à redução no preço da terra, é o atraso do pagamento do arrendamento da terra pelas usinas. “Se houve muita gente querendo vender parte de suas áreas ao mesmo tempo, a demanda teria ficado aquém da oferta causando queda natural nos preços devido a lei da oferta e da procura.” (RG)

RENÊ GARDIM
Especial para a Gazeta