foto: Weber Sian/A CIDADE
Ferraz Jr.

Ele olha para um azulejo solto na mão de um cliente, analisa, e diz a quantos anos aquela peça está fora de linha. E ninguém duvida. Afinal o comerciante Donizete João dos Santos domina o ofício há 15 anos. Em sua gigantesca loja, “Asilo de Azulejos Fora de Linha”, a maior das duas que possui, encravadas nos Campos Elísios, corredores enormes com estantes que chegam até o teto guardam pisos e azulejos fora de linha. “Perdi a conta de quantas peças eu tenho aqui”, confessa.
Do outro lado do balcão, um de seus mais antigos clientes, o técnico hidráulico José Almir Sicchieri, elogia. “Ele é muito sério no trabalho”, afirma. Quando não possui a peça solicitada no acervo, aciona os contatos em São Paulo e no Rio de Janeiro.
“A gente encomenda e depois de alguns dias, o cliente vem pegar na loja”, afirma.
Entre sua clientela predomina os trabalhadores em reformas de ambientes, como pedreiros, por exemplo. Um deles, Arquibaldo dos Santos, busca apenas 11 azulejos de uma padronagem que não existe mais. “Foi fabricado em 1982”, garante Donizete.
O pedreiro quer azulejar o banheiro da filha com aquele modelo. Saiu da loja com a perspectiva de escolher outra padronagem porque não encontrou a que queria. “Hoje eu estou vendendo para ele, mas ele me vende muita coisa depois que as obras acabam e ficam as sobras”, revela o comerciante.
Frequentadores
Arquitetos e estudantes também são assíduos freqüentadores da loja. Os profissionais vão em busca de raridades para compor uma parede decorativa. E raridade não falta. Um Matarazzo, estilo português, fora de linha há nada menos que 40 anos, é vendido por R$ 2 a unidade. “Pelo mesmo preço, estudantes vêm comprar azulejos de estampas lisas e coloridas, também fora de linha, para trabalhos de mosaicos na escola”, afirma Donizete.
Concorrência
Seu único concorrente em Ribeirão Preto fica a duas quadras de distância. O “Cemitério dos Pisos e Azulejos Fora de Linha” nasceu há 25 anos, junto com Felipe Ivo, filho do dono que hoje comanda os negócios. Com duas lojas na cidade e outras duas filiais em Franca e em Uberaba, o que predomina entre seus clientes são proprietários de imóveis e profissionais da construção civil que buscam peças de reposição.
Na falta de um modelo, ele também aciona seus contatos em São Paulo e faz uma busca ampliada. No acervo, também é possível encontrar raridades, como peças da marca Keralux, há 40 anos fora de linha. “Esses azulejos são muito requisitados por arquitetos que projetam mosaicos nas fachadas das casas, como ocorria no período colonial”, explica. A sorte dos dois comerciantes, no entanto, está na baixa concorrência e na durabilidade de seus produtos. Na última enchente, por exemplo, o nível da água chegou a 1,5 metro de altura. O acervo guarda as marcas da lama, limpa dos azulejos a cada cliente.