Quando as campainhas tocam em bairros paulistanos que são a bola da vez da especulação imobiliária, quem mora em casa já coloca a vassoura atrás da porta para receber os compradores de terrenos, mais conhecidos como captadores.

De acordo com moradores ouvidos pela Folha, na abordagem dos captadores, a ameaça real de que o imóvel se desvalorize com a potencial construção de um espigão ao lado é acompanhada por mentiras.
Além disso, eles costumam oferecer pelo bem um valor abaixo do de mercado.

"Ligam de três a cinco vezes por dia e falam, citando nomes, que vizinhos já venderam, mas é mentira, querem discórdia. Já dissemos que não está à venda", relata o comerciante Paschoal Dallanesi Júnior, 37.

O alvo dos captadores é a casa de sua avó, Maria Dallanesi, 84, na Lapa (zona oeste). No mesmo bairro, incorporadoras já transformaram quarteirões da rua Fábia em "paliteiro" -como os moradores referem-se aos edifícios que atrapalham a vista da serra da Cantareira.

Outros bairros sob pressão imobiliária são Ipiranga e Vila Mariana, na zona sul, e Tatuapé e Mooca, na zona leste. Segundo o advogado especializado em direito imobiliário Luis Paulo Serpa, 38, o proprietário pode pedir na Justiça indenização por dano moral.

"A pressão fere o direito de propriedade, mas não é comum as pessoas entrarem com um processo porque é difícil comprovar o assédio", pondera.

O advogado da ONG Movimento Defenda São Paulo, Marcus Vinicius Gramegna, 34, recomenda exigir dos captadores que se comuniquem sempre por escrito --a papelada pode ser prova de abordagem que extrapole o limite.