O presidente Lula da Silva já admitiu que teve dois cabos eleitorais em 2006, quando foi reconduzido à chefia da nação: o arroz Tio João, vendido por R$ 6,00 a saca de 5 quilos e o cimento, vendido por onze reais o saco de 70 kg. Ganhou, portanto, com o binômio casa e comida.
Não estamos querendo dizer, com isto, que o binômio educação e saúde não seja importante. Longe de nós. Mas queremos ressaltar que casa e comida são as duas necessidades básicas do homem, do ser humano, apesar de nossa cultura impor que cabe ao Estado cuidar sempre de educação e saúde.
Como fazia quando trabalhava em parceria com a Igreja. Mas a vida real nos mostra que, desde o útero materno, o homem carece, quando ainda feto, de habitação – o próprio útero – e de alimentação, que ele obtém enquanto gestado. Educação e saúde vêm depois. Muito depois.
O presidente, ao falar nesse binômio, mostrou conhecer a realidade, não raro escolhida pela cultura. Por trás desta realidade, não há como negar que a retomada do desenvolvimento, maior em termos de índice do que no passado mas ainda menor do que se poderia esperar, desequilibra a oferta. E pode pôr por terra a popularidade do presidente. Ou, parte dela. Foi por isto que o Banco Central não reduziu a taxa básica de juros, a Selic, em reunião de outubro de 2 007.
O presidente Henrique Meirelles, na qualidade de presidente do COPOM (Conselho de Política Monetária), o verdadeiro responsável pela vitória de Lula na reeleição, continua atento para o fato. E reúne condições para ser o candidato à sucessão do atual presidente porque tem o que mostrar ao povo, ao eleitor mais pobre sobretudo.
Está faltando cimento? Nada menos do que 20% das entregas de cimento vão para obras públicas.

Conjuntura
Os outros oitenta por cento vão para obras particulares. E estas, quando formais, aparecem nas estatísticas fornecidas periodicamente pelos setores responsáveis das Prefeituras Municipais e são referentes à aprovação de plantas – inclusive a área licenciada expressa em metros quadrados – para construção. É um poderoso indicador de conjuntura. Que deve ser considerado sempre.
A indústria, o comércio e as empresas em geral levam 7%. As pequenas obras – inclusive reformas e ampliações – são responsáveis por 23% do consumo de cimento. Já as construções de residências e edifícios – muitas vezes por empresas do setor – respondem pelos outros 50%.
Mas o preço do cimento está subindo. O produto tem preço – queiram ou não – cartelizado, favorecido o aumento pelo desiquilíbrio entre oferta – mantida – e demanda. Esta, aquecida.
Se as autoridades cuidarem do reequilíbrio, inclusive com aumento de importações – que gerará certamente crítica dos produtores mas será medida que favorecerá os consumidores e o desenvolvimento em geral – o presidente manterá o binômio que o reelegeu – casa e comida – e não perderá uma perna.
Em nossa região, a retomada do desenvolvimento da indústria da construção civil está sendo favorecida pela pequena remuneração dos ativos financeiros. Que poderão sofrer desova canalizada para consumo, aumento de vendas. E para o segmento da construção civil.
Desta vez, a retomada do mercado de locação também ajudará. Como, parece, já está ajudando.

VICENTE GOLFETO