Cresce o número de imóveis com placas de “vende-se” ou “aluga-se” ao longo da avenida Costábile Romano, em Ribeirão Preto. Ontem à tarde, a reportagem contou onze casas notadamente disponíveis para venda ou locação, algumas até com placas de mais de uma imobiliária.
O aquecimento do mercado imobiliário daquela região tem ligação com a liberação do comércio nas avenidas de bairros residenciais da cidade, como é o caso da Costábile, na Ribeirânia.
“O que mudou, na verdade, é que agora isso é visível. Antes acontecia, mas era mais ‘escondido’, feito diretamente pelo proprietário, mas não que fosse um negócio escuso”, disse Léo Constantino, 42 anos, sócio-proprietário de uma imóbiliária existente há 34 anos em Ribeirão Preto.
Somente na Costábile, ele tem oito imóveis para locação. “Quem nos procura mais é para comércio mesmo, vem muito o pessoal que tem acesso à cidade jurídica, como advogados”, contou. Os preços do aluguel mensal das casas varia entre R$ 1,2 mil e R$ 5 mil.
O preço dos imóveis é o que inibe os clientes, diz Teo Uchôa, 57 anos, proprietário de uma imobiliária que tem um imóvel à venda na Costábile.
“O que mudou com a lei é que os proprietários decidiram aumentar o preço. De resto, a procura continua a mesma”, afirma ele, que há 25 anos atua no ramo.
A regulamentação do uso dos imóveis da Costábile Romano, antes estritamente residencial, veio com a promulgação da lei complementar de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo, em 31 de janeiro, uma das peças complementares ao Plano Diretor.
Caseiro e morador
O mineiro Sérvulo Guerra, 48 anos, mora sozinho há cinco em um casarão da Costábile. O proprietário se mudou e colocou o imóvel para alugar. Pede R$ 6 mil pela casa que Guerra “administra”.
“Aqui já foi comércio, agora colocaram para alugar de novo. Outro dia eu estava brincando com meu vizinho aqui, dizendo: mas será que eu vou terminar sozinho aqui nessa avenida? Porque ele está querendo mudar, tem um que está reformando para escritório, uma outra casa mais para cima dessa aqui vai virar floricultura, e assim vai”, conta.
O caseiro olha com desconfiança para a ocupação das casas pelo comércio.
“Eles falaram que foi liberado, mas não sei não. Aqui tem gente com muito dinheiro, eles liberam, depois não liberam mais”, declarou.
Reação
Quem está descontente com a situação em que está o bairro após a aprovação da lei complementar é a Associação de Moradores da Ribeirânia (Amor), presidida por Ivens Telles Alves. Ainda esta semana, a Amor ingressa na Justiça com uma ação civil coletiva contra a prefeitura. Pretendem exigir indenização do governo. “São 242 imóveis, entre casas e lotes, que fazem fundo com a avenida e que perderam valor. Porque quem for comprar não sabe se vai ter como vizinho uma família, ou uma padaria, uma churrascaria, essas coisas que incomodam. O prefeito vai ter que pagar um preço por essa irresponsabilidade”, declarou Alves.
Ele calcula que o pedido de indenização chegue a R$ 10 milhões. “Isso só na Ribeirânia, não estamos pensando no prejuízo dos outros bairros”, disse.