DÉBORA FANTINI
Um clipe por uma casa. Esse cúmulo da permuta imobiliária foi empreendido pelo canadense Kyle MacDonald, 26, em julho último. O troca-troca pela internet durou um ano e envolveu outras 13 "moedas", como uma maçaneta e um papel em um filme de Hollywood.
A "moeda" mais inusitada que o corretor e presidente do Cofeci, João Teodoro da Silva, viu ser incluída numa negociação que intermediou foi uma máquina de crepe suíço. "Mas foi excepcional. Entre particulares é comum trocar, no máximo, terreno ou casa por carro."
O engenheiro André Coutinho, 33, topou levar não apenas um automóvel, avaliado em R$ 35 mil, como parte do pagamento de um lote de R$ 55 mil, mas também R$ 5.000 em pneus, dos quais logo se desfez.
Passados três meses, ainda não conseguiu vender o carro. "Sou dono de um bem que não me interessa", lamenta.
No outro lado da gangorra, o empresário José Batista das Dores, 54, incluiu um veículo no pagamento de um sobrado na Freguesia do Ó (zona norte). Ele já havia trocado um lote na zona rural de Porangaba (169 km a oeste de São Paulo) por outro no centro daquela cidade.
"Nos dois casos, os vendedores relutaram. Nenhum de nós tinha know-how, fechamos por preço de jornal", conta.
Avaliação
Avaliar o imóvel com um especialista, o que custa cerca de R$ 600, é o caminho mais indicado para constituir uma base sólida de valor para a permuta.
"Faça três avaliações por garantia", recomenda o diretor da Amaral d"Avila Engenharia de Avaliações Celso Amaral, 46.
A precaução tripla é um exagero para o presidente do Creci-SP (Conselho Regional de Corretores de Imóveis), José Augusto Viana Neto, 55: "Pelo Código Civil, o corretor é responsável por perdas causadas pela informação que repassou".
Receber o valor de mercado ou mais, porém, é difícil numa troca. "Os interesses estão desfocados. Uma parte está louca para se desfazer de um bem, e a outra não tem interesse nele. Tudo contribui para uma depreciação", avalia o consultor da Rieger Auditoria de Investimentos, Bernd Rieger, 65.
Quem entrega um imóvel como parte de pagamento deve incluir no contrato uma cláusula que estipule o prazo para transferência de titularidade. Isso evita ter de arcar com cobranças de condomínio, luz, IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e outras contas.
A medida também impede dores de cabeça ainda maiores para quem pretende usar o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), que não será liberado se o beneficiário for dono de um imóvel na cidade onde queira adquirir um novo.
Pente fino
Já quem aceita pagamento em imóvel, mesmo que pretenda vendê-lo, deve se colocar na posição de comprador.
A primeira precaução é comprovar que não existem dívidas pendentes nem processos que possam culminar em penhora. Para tanto, é preciso checar escritura e certidões do imóvel e do proprietário.
É recomendável ainda verificar se a vizinhança e as possibilidades de uso de acordo com a Lei de Zoneamento não desvalorizam o imóvel. Para ter certeza da liquidez, contrate uma consultoria imobiliária.
Em um negócio particular, a corretora da imobiliária Terceiro Milênio Luciane Memdaçoli, 28, ousou aceitar metade do valor da casa que vendeu por R$ 800 mil em outras duas.
Os três imóveis ficam na Granja Viana, em Cotia (região metropolitana de São Paulo), onde boa parte dos negócios envolve permuta, segundo Memdaçoli. Em uma casa ela mora, e a outra já passou adiante. "Fechei outro negócio em 15 dias", comemora.