WEBER SIAN Morar no Centro desperta paixões                                                 RESIDÊNCIAS A região central de RP fica localizada entre quatro avenidas: concentração de imóveis

Morar no Centro de Ribeirão Preto pode ser uma questão de resistência, teimosia, tradição ou paixão. O mercado imobiliário residencial, ao contrário do comercial, anda tímido no quadrilátero central. Moradores de apartamentos e até mesmo casas dividem opiniões, doces e amargas, a respeito do bairro onde tudo começou. Mas há algo em comum: não arredam o pé.
Edifícios residenciais estão espalhados por todo o Centro, com algumas concentrações mais significativas na parte alta do bairro. São prédios, em sua maioria, rodeados por lojas, mercados, lanchonetes, escritórios, clínicas médicas, sorveterias e demais pontos comerciais que já fazem parte do cenário.
O coordenador de vendas da ES Empreendimentos Imobiliários, Milton Azzuz, afirma que houve queda no valor dos imóveis residenciais na região central, por conta da expansão imobiliária para outras regiões da cidade. “Hoje é possível encontrar apartamentos por preços convidativos, tanto para venda quanto para locação. Porém, o que dificulta a negociação são os valores altos dos condomínios”, explica.
O delegado do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis em Ribeirão Preto (Creci/RP), Sinésio Donizeti Rodrigues, afirma que a expansão comercial no Centro é inevitável e certamente tomará o espaço residencial, principalmente casas. “A ACIRP - Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto - está investindo para tornar o Centro melhor. Grandes empresas, como a rede Carrefour, estão se instalando na região. A tendência é que o comércio cresça muito mais”, diz.
Para a professora Maria Silvia Moita Pegoraro, é justamente o aquecimento comercial o motivo que a estimula viver no Centro. “Moro na rua Campos Salles e trabalho na Escola Guimarães Júnior, na Lafaiete. Posso escolher pelo menos quatro supermercados para fazer compras. Vou ao cinema no shopping Santa Úrsula. Faço tudo isso a pé. Não penso em mudar tão cedo”, conta.
O poeta e publicitário Nicolas Guto respira o Centro. Almoça, faz compras, observa as pessoas e se inspira. “Passo grande parte da minha vida na região central. É fonte de inspiração, semente de ótimas histórias”, diz.
A pedagoga Zandla Lima Marcato, que mora no bairro há 14 anos, também considera o Centro um local prático, que oferece tudo o que ela necessita para viver. Porém, vaidosa, faz uma ressalva: “ando muito a pé e fico incomodada com algumas calçadas mal cuidadas. Para a mulher que usa salto alto fica complicado passar por essas caminhos”.

O padre
“Depois dos pombos, tenho que enfrentar a falta de iluminação”. Polêmico, o padre Francisco Jaber Zanardo Moussa, pároco da Catedral Metropolitana, reclama da sujeira, da ausência de policiamento e da falta de manutenção na praça São Sebastião. Apesar das reclamações, afirma que gosta de morar no Centro.
Padre Chicão, como é chamado, mora perto da Catedral há seis anos, sendo os últimos quatro na Casa Paroquial.
“O Centro é o meu local de morada e de trabalho. A pé, visito moradores e hospitais, vou ao comércio e encontro tudo o que preciso. Mas seria melhor se não houvesse violência e descaso”, alfineta.

Especulação
A atriz Patty Mattioli, que mora numa casa na rua Américo Brasiliense desde que nasceu, há 40 anos, é um símbolo da resistência à especulação imobiliária comercial. A localização privilegiada, próxima à praça Sete de Setembro, já rendeu inúmeras propostas de compra.
“Passei minha infância correndo pela praça Sete de Setembro. Me sinto feliz em morar nesse bairro. Claro que os tempos são outros, mas até hoje não enfrentei nenhum problema com falta de segurança ou coisa parecida. Não quero vender a casa”, conta.
Segundo Patty, as propostas, “muitas delas ridículas”, normalmente são feitas por pessoas interessadas em montar estacionamentos ou predinhos comerciais. “A casa é antiga, mas tem seu valor e não é apenas sentimental”, conta
A atriz está em turnê regional com a peça A Segunda Gozada, do autor e diretor Antônio Veiga. O espetáculo é interpretado por atores do Boca no Trombone, que completa uma década este ano. Além de Patty, os atores Djalma Cano, Nenê Alcântara, Reinaldo Colmanetti e Fernanda Lins se revezam no palco. Patty afirma que a peça é como as propostas de compra feitas por sua casa: “uma comédia”.

Alexandre Carolo
Especial para A Cidade