foto: WEBER SIAN
Acordar com os raios solares do amanhecer incidindo no seu quarto ou ter o prazer de ver a luz da manhã entrando pela sala de estar. Desejo comum a muitas pessoas, que tem sido valorizado nos projetos arquitetônicos.
“As pessoas querem cada vez mais casas abertas, que possibilitem a visualização das áreas externas e a presença da luz da natureza”, comenta o arquiteto Sérgio Coelho.
A proposta de incidência da luz natural é pensada no conjunto do projeto. A primeira coisa a ser avaliada é a orientação da casa em relação à posição do sol, partindo então para a definição das aberturas.
Cada ambiente tem funções e necessidades de iluminação diferentes, tudo isso é analisado na concepção do projeto.
“A claridade da luz da natureza amplia o ambiente e o uso de painéis de vidro aumentam o campo visual, proporcionando integração das pessoas”, avalia o arquiteto.
A preocupação com a valorização da iluminação natural é uma tendência mundial, até mesmo por conta da importância em economizar energia elétrica. “A luz do sol é fundamental”, declara Coelho.
Os projetos que permitem entrada da luz natural possibilitam um gasto menor de energia. São condizentes com a necessidade da preservação ambiental.
Para o professor do departamento de Física da USP de Ribeirão Preto, Luciano Bachmann, que integra o grupo de fotobiofísica da universidade, em outros países, principalmente na Europa, os arquitetos aproveitam ao máximo a incidência da luz natural nos ambientes.
“As pessoas são mais conscientes em relação ao aproveitamento de energia. Os painéis de vidro ao final dos corredores e vãos ou clarabóias nas coberturas são comuns para diminuir o uso de iluminação artificial durante o dia”, fala.
Mas segundo o arquiteto, o excesso de luz do sol também pode ser prejudicial, tanto quanto a sua falta.
“Na nossa cidade, grandes aberturas são uma questão complicada, pois podem provocar um efeito estufa”, fala Coelho.
Isso acarretaria um uso excessivo de ar-condicionado, destruindo o conceito de economia.
A luz excessiva e direta desbota os móveis e tecidos, ou seja, provoca um desgaste das peças da decoração. A luz indireta é a ideal.
Assim quando as edificações que cercam o terreno só favorecem a posição do sol da tarde, o arquiteto conta que para valorizar a incidência da luz do sol são criadas aberturas, mas usa-se de artifícios para evitar a insolação como, por exemplo, a natureza para fazer sombreamento.
“É muito agradável abrir a janela e se deparar com o verde, por isso é o recurso mais usado. Em muitos projetos iniciamos o plantio no começo da construção. Quando a pessoa se muda já existe a proteção da vegetação”, comenta o arquiteto.
Marquises, beirais, pergolados também estão na lista dos ‘protetores’ da incidência de luz. Eles exercem a função de pára-sol. Persianas também ajudam a filtrar o sol em alguns cômodos da casa
O arquiteto fala que outro benefício da luz natural é o efeito higienizador do ambiente. “O sol direcionado a uma pia de cozinha, por exemplo, promove a secagem e evita fungos”, explica o arquiteto.

BENEFÍCIOS
A luz do sol regula o humor e até mesmo o biorritmo

A presença de luz influencia no estado de ânimo da pessoa e no humor. “A incidência da luz da natureza provoca alterações orgânicas e regula o nosso biorritmo”, comenta o professor Luciano Bachmann.
Ele participa do grupo de fotobiofísica da USP, que estuda os efeitos da interação da luz com o sistema biológico humano.
“Nosso organismo evolui para vivermos na luz do dia”, define Bachmann.
“Por conta da civilização 24 horas em que vivemos, às vezes invertemos o dia com a noite”, completa.
Segundo o professor quando exposto à luz nosso organismo produz substâncias que estão relacionados às emoções e que regulam o humor.
A sua presença pode garantir uma sensação de bem-estar e uma integração maior com o espaço.
“A luz do sol também é essencial para a produção de melanina e a fixação de cálcio pelo organismo”, ressalta.
Ela regula nosso relógio biológico definindo os estágios de vigília e de sono.
Se ficamos num ambiente com pouca incidência de luz nosso organismo tende a entender como momento de sono, o que atrapalha desempenho.
“Com a presença da luz natural nosso organismo acompanha as fases do dia, com a noção exata das passagens de um período para o outro”, relata Bachmann.


CONCEITO
Luz da natureza interfere na fisiologia humana

A arquiteta e lighting designer Esther Stiller é um dos principais nomes em projetos de iluminação artificial no país.
Esther explica que cada comprimento de onda da luz visível tem influências diferentes na fisiologia humana.
A luz da natureza apresenta diversas tonalidades durante o dia. Pela manhã é mais amarelada, ao meio-dia mais azul e ao entardecer e à noite, laranja e vermelha.
“A variação da luz durante 24 horas, é um importante fator da saúde humana”, fala Esther.
Os comprimentos de onda azuis inibem a produção de melatonina, hormônio que provoca o ‘adormecimento’ do corpo humano.
Como os espectros azuis ativam o metabolismo, facilitando a atividade muscular e cerebral, a presença desta luz é excelente em ambientes de trabalho.
Já os comprimentos de onda vermelhos, ao contrário, facilitam o relaxamento, a introversão e a diminuição das funções do metabolismo.
A melatonina é um hormônio que só se produz com ausência de luz.
“Essa substância é responsável pela baixa do metabolismo, inclusive baixa da temperatura e dos batimentos cardíacos”, descreve a arquiteta.
A melatonina garante a reposição de células que o organismo necessita fazer todos os dias, no período noturno.
“Quando se muda frequentemente de fuso horário ou se troca o dia pela noite a saude é agredida, pois a modulação dos ciclos do dia é desobedecida”, fala a arquiteta.
Esther comenta que por conta desta relação direta com a fisiologia humana, na concepção do projeto de iluminação é analisada a finalidade do ambiente.
Nos seus projetos de iluminação artificial a arquiteta avalia as “impressões” psicológicas advindas dos contatos com clientes para compará-las à luz da natureza. “Uso luz morna, adequada a ambientes introspectivos, e luz branca, adequada a reuniões ativas”, exemplifica Esther.