Patrimônio e memória Edifício Diederichsen apresenta falhas em sua estrutura.

Paredes do prédio do Edifício Diederichsen estão trincando. A primeira construção vertical de Ribeirão Preto, erguida na década de 30 e tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), começou a apresentar as trincas por dentro e por fora das paredes a partir do segundo andar.

Inquilinos do prédio afirmam que o surgimento das trincas coincidem com o início da reforma feita sem o aval do Condephaat da loja da rede de calçados Humanitarian, que ocupou o espaço onde ficava o Empório Pinguim, em outubro do ano passado. De lá para cá, os trincas não param de crescer. Ninguém da Humanitarian comentou o assunto.

Ariovaldo Malaguti, 45 anos, proprietário de uma relojoaria que fica no segundo andar, lembra o dia em que funcionários de uma loja de fotografia que ficava no local desceram as escadas correndo, com medo de que o prédio fosse desabar. “Foi na época da reforma. Houve um estrondo e o prédio começou a balançar. Todos correram para fora”, afirmou. A trinca está na sacada da sala dele e sobe aos andares superiores, o que pode ser visto por quem passa pelo Calçadão.

Já dentro da sala, são trincas ao lado da porta, que fazem com que ela feche com dificuldade. “Já pintei para disfarçar, mas o trinco aumentou.”

A equipe de redação do jornal Inconfidência Ribeirão, que ocupa uma sala ao lado da relojoaria, percebeu as trincas quando houve a intenção de reformar o local. Embaixo das tintas, foram encontradas trincas maiores.

O Condephaat informou, por meio de nota, que diante da informação passada pela reportagem, solicitou uma vistoria para verificar se existem rachaduras ou trincas de argamassa. Também informou que o edifício possui tombamento apenas da sua parte externa e do hall de entrada, e que as alterações internas podem ser feitas. Quanto à Humanitarian, informou que a intervenção realizada na loja foi iniciada sem aprovação do conselho, mas o proprietário já apresentou um projeto de regularização, deliberado favoravelmente.

Obras de hotel serão retomadas

As obras de conclusão da reforma do prédio do antigo Hotel Palace, localizado no Quarteirão Paulista, deverão ser reiniciadas depois do encerramento da 10ª Feira do Livro, no dia 20. A informação é do conselheiro do Conppac, o arquiteto Claudio Bauso. A fonte luminosa da Praça XV de Novembro também será restaurada e as intervenções deverão manter a estrutura da década de 30. O prédio é de 1926 e foi o primeiro a ser construído na região. Inaugurado com o nome de Hotel Central, teve sua fachada remodelada para acompanhar o estilo arquitetônico do Theatro Pedro II e do Edifício Meira Júnior. Funcionou como centro de hospedaria até o final da década de 80 e foi tombado em 1993.

Três anos depois, começou a luta pela restauração, que leva em conta a necessidade de preservação das características originais. O prédio começou a ser reformado em 2001. (GY)

Para arquiteto, problema é reflexo natural do tempo

O arquiteto Claudio Bauso, conselheiro do Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural (Conppac) do Município de Ribeirão Preto, disse que foi avisado sobre as trincas no Edifício Diederichsen e que já fez uma vistoria no local. De acordo com ele, as trincas não abalam a estrutura do prédio.

“Foram feitas intervenções e reformas durante anos. Essas trincas são consequências, o Edifício Diederichsen tem 74 anos e é normal. Felizmente, não comprometem estruturalmente”, explicou. Bauso foi até o local depois de receber a informação de uma possível rachadura, o que foi descartado por ele e pela equipe do Conppac.

“A diferença da rachadura é que ela compromete o prédio, e os abalos seriam visíveis. Portas e janelas não fechariam, por exemplo”, afirmou. A assessoria de imprensa da Santa Casa de Misericórdia, entidade mantenedora do patrimônio, informou que não existe problema de rachaduras no local.