foto: JOYCE CURY
Está sendo aberto o caminho para que Ribeirão Preto ganhe uma nova área verde, que poderá ser a maior da cidade: o parque do Morro da Vitória. Na última quinta-feira, a Prefeitura enviou à Câmara Municipal o projeto do Plano Viário, uma das cinco leis que compõem o Plano Diretor. A aprovação do Plano Viário abre espaço para a transformação do morro da Vitória em um parque público.
Com seus 304.000 metros quadrados, a área verde, remanescente da mata nativa, tem exatamente o dobro do tamanho do parque Curupira (152.000 m2) e é maior também que o Parque Municipal do Morro de São Bento (250.880 m2, incluindo o Bosque e Zoológico “Dr. Fábio Barreto”).
“Espero que possamos chegar a algum acordo com a Prefeitura, devidamente acompanhado pela Promotoria do Meio Ambiente. A idéia sempre foi a de doar a área de floresta para a cidade, em troca de urbanização do entorno”, explica João Paulo Musa Pessoa, presidente da Fundação Educandário “Quito Junqueira”, proprietária da fazenda Morro da Vitória.
Segundo ele, os planos nesse sentido nunca avançaram por causa da indefinição quanto aos acessos. “Sem saber onde vão passar as futuras avenidas, não tem como urbanizar a área”, diz Musa Pessoa. “E todos os prefeitos sempre disseram que não tinham recursos para abrir novas avenidas. Por isso, sem sequer a previsão dos acessos, a urbanização da fazenda, apesar de sua localização privilegiada, sempre esbarrou na questão do sistema viário”, explica.
Ao ser adquirida para abrigar um educandário para menores carentes, em 1938, a fazenda Morro da Vitória tinha 231 alqueires - chegava até a avenida da Saudade, defronte ao cemitério. Nas décadas seguintes, abriram-se as avenidas Quito Junqueira, Paschoal Innecchi e Oscar de Moura Lacerda. Em partes da fazenda surgiram o Jardim Independência, o Quartel da Polícia Militar e um loteamento industrial, entre outros.
Hoje, a fazenda do Morro da Vitória tem 68 alqueires. Em troca da possibilidade de implantar loteamentos nessa área, a Fundação Educandario aceita doar os 304.000 m2 de floresta remanescente para a Prefeitura.
“Durante as últimas décadas, todas as diretorias do Educandário tiveram a preocupação de manter aquela mata intocável, não só pela questão do meio ambiente, mas também em respeito a história de Ribeirão Preto, já que o morro é bastante simbólico para a cidade”, diz o presidente da Fundação Educandário “Cel. Quito Junqueira”.

RP tem 4m² de área verde por habitante
Para Manoel Eduardo Tavares Ferreira, presidente da Associação Ecológica e Cultural “Pau Brasil”, uma das mais antigas do interior paulista, a cidade não pode deixar escapar oportunidades como a possível doação do morro da Vitória e sua transformação em um parque aberto ao público.
“Enquanto a Organização Mundial de Saúde recomenda 12 metros quadrados de área verde por habitante e a Lei Orgânica Municipal prevê 15 m2, temos hoje apenas 4 m2 de área verde para cada morador da cidade”, comenta.
Segundo ele, cidades como Curitiba (PR), de reconhecida qualidade de vida, conseguiram encampar áreas verdes e abri-las aos moradores graças a negociações com empreendedores semelhantes a que a Fundação Educandário “Cel. Quito Junqueira” está disposta a fazer com a Prefeitura. “Lá eles têm atualmente quase 40 m2 de área verde por habitante”, destaca.
A mata da fazenda do morro da Vitória é uma vegetação nativa, típica da região. “É uma vegetação de transição entre a Mata Atlântica e o cerrado, com espécies como angicos, copaíbas e paineiras”, explica Manoel Eduardo Tavares Ferreira. “Transformar o morro da Vitória é uma oportunidade única”, completa.