Até planta deve exibir recursos e garantir espaço para câmeras e alarmes

São Paulo - Foi-se o tempo em que mais de uma vaga na garagem, piscinas, metros e metros quadrados de área construída e boa localização eram os principais itens para atrair moradores em lançamentos imobiliários na capital - da classe média ao alto padrão. O exigente público paulistano agora quer saber, enquanto o projeto ainda está na planta, qual será o diferencial de segurança. "É uma questão fundamental, está entre as primeiras perguntas do cliente na hora da compra", diz o gerente de Incorporações da Company Construtora, Fabio Romano.

Culpa dos arrastões, dos sucessivos assaltos a condomínios luxuosos e dos seqüestros na entrada dos edifícios. A Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo (Aabic) estima que 20 prédios são assaltados por mês na capital. "É um dado que nem sempre chega à delegacia. Muitos não registram queixa para não manchar a imagem do condomínio", diz o presidente da entidade, Claudio Anauate.

A Secretaria da Segurança Pública não tem estatísticas sobre esses crimes. O delegado Edison Santi, do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic), informa que eles são registrados como furto a residência, independentemente de ocorrerem em casas ou apartamentos. "Mas combatê-los é uma das prioridades do Deic."

O Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi) confirma que segurança é a maior preocupação de quem compra um imóvel hoje. "Quem não oferecer segurança está em desvantagem no mercado", diz o vice-presidente de Administração Imobiliária e Condomínios do Secovi, Hubert Gebara. "É uma preocupação do setor e cada vez mais vem sendo pensada antes de a obra sair do projeto", afirma Anauate. Isso evita, por exemplo, que a guarita seja mal localizada e os muros dificultem a instalação de equipamentos, como câmeras e alarmes. Para quem compra o imóvel, o item segurança às vezes vem em primeiro plano. "Tenho três filhas e não posso me descuidar com relação à proteção", diz a empresária Siomara de Cássia Tavares.

Alterações - Mudou a concepção que se tinha para construir garagens e portões. Até a iluminação é outra. "Tem de pensar o projeto como um todo. A segurança tem de estar em harmonia com a questão paisagística", diz o gerente de Projetos da Inpar Construtora, Waltermino Pereira da Silva Junior.

Mas o conceito de segurança, segundo especialistas, não se limita apenas a equipamentos e homens rondando o imóvel. Antes de tudo isso, o condomínio precisa ter um bom planejamento de atitudes e deixar claro aos moradores o tipo de comportamento que devem ter. "Há toda uma rotina dos profissionais que trabalham no condomínio, do porteiro ao vigia", explica o consultor de segurança empresarial e patrimonial Carlos Roberto Faria Salaorni. "A colaboração dos moradores para cumprir as normas é fundamental."

Nos empreendimentos da Company, por exemplo, eles só entram no local acompanhados se a pessoa for previamente identificada ou também residir no prédio. Caso contrário, terá de descer do carro e entrar no edifício pela passagem de pedestres, após identificação na portaria. "Pode até causar um certo constrangimento, mas nosso público está bem alerta e sabe o tipo de conduta que deve ter", afirma Romano.

Antecipação - O diretor da Incorporadora Coelho da Fonseca, Sergio Vieira, diz que a sofisticação do esquema de proteção deve antecipar-se à "tecnologia" usada pelos assaltantes para ter acesso aos condomínios. "Qual eles vão preferir, os bem equipados e com guardas ou os que parecem vulneráveis? Embora muita gente não tenha percebido, vivemos numa guerra civil silenciosa", afirma.

Na semana passada, uma quadrilha entrou em um prédio do Sumaré, na zona oeste, usando um controle remoto da garagem. O bando fez 15 reféns e levou dinheiro, cartões de banco, celulares, jóias e um carro. "Os assaltantes não são Robin Hood, são profissionais", alerta Anauate, da Aabic.

Bárbara Souza