Por meio da emissão de Certificados de Recebíveis Imobiliários, de debêntures e constituição de fundos de investimento, algumas empresas têm encontrado fôlego para tocar projetos de expansão

São Paulo - A escassez de recursos para financiamento à produção imobiliária, bancada majoritariamente com caixa próprio e linhas bancárias, e os custos de aquisição desse capital pelas vias tradicionais de empréstimo estão incentivando construtoras e incorporadoras a voltar suas atenções ao mercado de capitais. Por meio da emissão de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), de debêntures e constituição de fundos de investimento, algumas empresas têm encontrado fôlego para tocar projetos de expansão sem ter de espremer suas margens operacionais.

Há quem diga que, mais adiante, essa aproximação entre os mercados de imóveis e de títulos poderá resultar em uma nova relação de companhias de capital aberto no País. A Gafisa, construtora controlada por fundos da GP Investimentos, é uma das empresas que deverá negociar ações na Bolsa no futuro próximo, a partir da oferta da participação desses fundos a outros investidores. A empresa já possui registro de companhia aberta. Falta o mercado se mostrar atraído pelo setor.

O mesmo argumento é apresentado pela Company, que também possui registro na Bovespa, mas ainda aguarda o melhor momento para ofertar ações no mercado. Entre as que se arriscaram a colocar papéis em negociação, como a Rossi Residencial e a Brazil Realty, a falta de atratividade do setor e as incertezas que rondaram o segmento imobiliário nos últimos anos jogaram por terra os planos de liquidez para os papéis.

Enquanto ainda se desenha o cenário favorável a IPOs (sigla em inglês para oferta inicial de ações) ou colocação de papéis no mercado, o momento é de captar recursos por meio de ferramentas inovadoras. Para fugir dos custos do financiamento bancário tradicional, o segmento de edificações tem sido criativo e buscado alianças estratégicas, incluindo parcerias com bancos de investimento.

Acompanhando uma tendência do mercado, por exemplo, a Gafisa registrou na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) um programa de distribuição de debêntures com duração de dois anos, no montante de R$ 200 milhões. Ao mesmo tempo, levou à análise da autarquia sua segunda emissão de títulos, de R$ 64 milhões. Ao que tudo indica, a construtora utilizará parte dos recursos para financiar sua expansão. A meta da empresa, para este ano, é dobrar o número de lançamentos na comparação com 2004.

Assim como a Gafisa, outras construtoras devem aproveitar o maior apetite do mercado por títulos lastreados em imóveis e têm combinado a emissão de papéis a parcerias inéditas com bancos de investimento, como a Rossi Residencial. Essa alternativa, que pode resultar na constituição de Sociedades de Propósito Específico (SPE) ou em fundos de investimento em participação, também tem atraído incorporadoras de capital fechado. A alteração do sistema de financiamento da indústria imobiliária, na realidade, reflete um desejo antigo das próprias construtoras, instituições financeiras e governo federal. Em 1997, quando foi instituído o Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI), o objetivo era introduzir novos mecanismos de captação de recursos. O modelo, que tem a securitização (conversão de créditos a receber, nesse caso imobiliários, em títulos vendidos a investidores) como ponto de partida, ainda não deslanchou, porém, passou a avançar com mais rapidez desde o ano passado.

O mais forte estímulo ao SFI veio em agosto de 2004, com a edição da Lei 10.931 que, entre outros avanços, aprimorou as garantias jurídicas dos negócios imobiliários. No mesmo mês em que a lei foi editada, o governo federal modificou o tratamento tributário conferido a Letras Hipotecárias (LHs), Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e CRIs mantidos por pessoa física. A derrapada, entretanto, ficou por conta da não extensão da isenção de Imposto de Renda (IR) sobre os rendimentos de cotas de fundos de investimento imobiliário. Nesse terreno, defende o mercado, ainda há muito trabalho a ser feito.

Stella Fontes