Os recursos para o setor da habitação existem, o governo sabe onde estão, e precisa apenas redirecioná-los, insiste o presidente do Creci-SP (Conselho Regional de Corretores de Imóveis), José Augusto Viana Neto. "Basta usar a caneta. Só o presidente pode. E deve", afirma o corretor.

Ele refuta veementemente o bordão de que "só imóveis novos geram empregos". Para Viana Neto, "financiar produção para gerar empregos é a geração de empregos mais cara e curta que existe".

Segundo ele, medidas paliativas --como a da Caixa Econômica Federal, ao criar financiamentos para reforma e construção a partir de R$ 10.000-- são inúteis. "Boa iniciativa para criar empregos temporários: acabou a obra, acabou o emprego", justifica Viana Neto, embora reconheça que a medida seja "ótima para a indústria e comércio de material de construção".

Por isso ele diz se surpreender com o que julga ser uma "teimosa resistência do governo em adotar planos preestabelecidos por ele próprio". Ele cita o caso do financiamento para imóveis usados.

"Quando, finalmente, em 1997, começou para valer o financiamento ao comprador, sem discriminação aos usados, 1,5 milhão de imóveis foram financiados, 95% deles no valor de até R$ 25.000. Provou-se que a compra do primeiro imóvel irriga a base do mercado e gera um efeito multiplicador de até seis vezes. E, em alguma fase, inevitavelmente está um imóvel novo no mínimo."

O motor parou em 2001, quando a CEF passou a exigir 50% de entrada para essa modalidade de crédito e quando o desemprego começou a apertar o bolso da população.

Fazendo as contas

Há, ao menos, seis milhões de inquilinos de baixa renda no país, lembra Viana Neto. "Esses podem trocar o aluguel pela prestação da casa própria e o farão, se puderem comprar sem entrada. Não precisam comprovar renda, porque já o fazem pagando aluguel em dia", antevê.

"Se apenas metade desses inquilinos --três milhões de famílias, 12 milhões de pessoas-- for contemplada com um financiamento em torno de R$ 25.000, serão gerados 18 milhões de operações imobiliárias. E vale lembrar que muitos favelados pagam aluguel idêntico ao do imóvel convencional, e lá estão por simples falta de fiador", completa.

Para isso, o governo precisaria de R$ 75 bilhões, calcula. "Se nessas operações apenas uma contemplar um imóvel novo, em qualquer estágio, teremos os 10 milhões de empregos prometidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Basta considerar o mercado periférico da indústria imobiliária", sugere Viana Neto.

Segundo o presidente do Creci-SP, cerca de 95% dos vendedores de imóveis deverão comprar outra unidade mais nova.

"Não se despende nenhum centavo de importação e resulta em geração de impostos diretos e indiretos. Há ativação da indústria da construção civil e de seus agregados. Promove-se a desfavelização, há aumento de salubridade, segurança e dignidade", resume.