Antônio Vicente Golfeto

A saga do Homem sobre a terra pode ser dividida em três tempos: o tempo de tirar, o tempo de trocar e o tempo de doar.
Já passou o primeiro tempo: o de tirar. A marca deste tempo é a violência, útero de onde nasce o crime. Ou melhor, não passou ainda totalmente, mas subsiste em tempos de troca cujo território onde se realiza é o mercado. O Homem, portanto, troca (to trade, em Inglês ) mas em muitos casos ainda tira. Aí configura-se o crime, inclusive quando tira a vida do próximo.
Vivendo o segundo tempo, no entanto, o Homem sonha sempre com o que se denomina última etapa ou último tempo: o de doar. Em termos cristãos se diz que é preciso doar até doer.
Na língua portuguesa, o prefixo per acentua e muito o sentido do verbo. Perdurar, por exemplo, é durar muito. Seguir uma pessoa é ir atrás desta pessoa. Mas perseguir é seguir com muita insistência. O mesmo se pode dizer de perdoar. Doar é difícil. Perdoar, convenhamos, é muito mais. Até porque, perdoar não é esquecer. É doar mais e com insistência. O substrato da fase de doar é a ética que, quando solicitada em tempos de troca, é de difícil execução, não é mesmo?
Mas vivemos a fase de troca.
Existem três modalidades de troca. A primeira, a mais antiga, é o escambo. Escambo é a troca de mercadoria ou serviço por mercadorias ou serviço. Sem interveniência de moeda. A segunda é a compra e venda, a mais conhecida. Compra e venda é a troca de mercadoria ou serviço por moeda, por dinheiro (de papel, de plástico). E a terceira modalidade de troca é o câmbio, que é a troca de moeda por moeda, mas de países diferentes. Trocar moeda de um mesmo país não é câmbio. É troco.
Pois bem, no mercado imobiliário utiliza-se preponderantemente a compra e venda. E muito pouco o escambo. Este pode ser híbrido, misto. Um exemplo: troco uma casa por um terreno mais uma importância em dinheiro.
Apesar de ser a mais antiga modalidade de troca, o escambo não é muito utilizado nas transações imobiliárias. É mais utilizado no comércio de veículos em que um automóvel mais velho pode, muitas vezes, entrar como parte do pagamento.
Não seria o caso de, em vez de se ter imóveis encalhados por muito tempo - a liquidez dos imóveis não é tão fácil como a de outros bens, por exemplo - pensar-se em valer-se de parte da transação em escambo? Quem recebe um imóvel como parte de pagamento recebe um imóvel que, depois, pode continuar a venda, se já não estava. O vendedor do imóvel de maior valor já recebe algo em dinheiro, no início do negócio.
A falta desta cultura atrapalha as transações. Mas pode ser incentivada inclusive pelos profissionais de mediação, os corretores.