A maior parte das vendas de imóveis usados foi feita à vista em julho na capital (50,35%), o que não ocorria desde março, quando o porcentual atingiu 52,8%. É o que mostram dados do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Estado (Creci-SP).

Para especialistas, o cenário pode estar ligado à opções de investimento dos consumidores, que fugiram da taxa básica de juros (Selic) e da Bolsa de Valores, ambas em baixa.

“As pessoas estão olhando para o futuro e achando que as aplicações em ações ou renda fixa não estão atrativas. Desta forma, passam a investir em imóveis, que julgam ser uma aplicação mais segura no momento”, analisa Keyler Carvalho Rocha professor do Laboratório de Finanças da FIA.

No ano, a Bolsa já registrou queda de 20,27%. “Isso somado aos juros que já caíram 1% nos últimos dois meses”, acrescenta o professor de finanças pessoais da Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA), Roy Martelanc.

O Creci-SP aponta como motivos da preferência na compra à vista dos imóveis a estabilidade econômica e a maior dificuldade de crédito. “As melhores condições salariais, maior número de empregos formais e boa fase da economia, principalmente no ano passado, permitiram que o brasileiro poupasse mais”, diz o presidente do Conselho, José Augusto Viana Neto. “Além disso, os bancos dificultaram o crédito, como uma das medidas para diminuir a inflação, o que desencorajou muitos a pedir financiamento da casa própria”, completa.

Investimento sem ilusão – Para quem optou pela compra de um imóvel para investir, o conselho é que tenha cuidado e atenção. “Os imóveis valorizaram 100% nos últimos 12 meses e muitos acham que vão valorizar ainda mais. Na minha opinião, porém, os preços já atingiram um limite, o que leva a crer que o mercado vai ficar saturado”, aponta Rocha, da FIA.

A regra, segundo o professor, não vale para alguns casos. “Regiões onde serão construídas estações de metrô ou mesmo onde ficará o Estádio Itaquerão devem continuar se valorizando”, diz.

Martelanc chama atenção para o mesmo problema. “O que acontece é que, em épocas como esta (de juros e ações em baixa), todo mundo quer comprar imóveis ao mesmo tempo e, ao final do ciclo, vendem ao mesmo tempo, o que faz com que comprem caro e vendam barato”, ressalta. “Aí não adianta nada.”

Nesse caso, mesmo com os juros caindo, a renda fixa ainda é apontada como a melhor opção para proteger investimentos das inconstâncias e imprevisibilidade do mercado. “Destaco aplicação no Tesouro Direto. As chances de o governo dar um calote são muito pequenas”, aponta Martelanc. Além disso, a modalidade foi considerada a mais rentável dos últimos dez anos dentre as de renda fixa.

Se a intenção é pagar à vista para morar, a prática é altamente recomendável. “Para quem tiver recursos, a negociação do imóvel pode ficar extremamente mais vantajosa nessas condições. O desconto pode chegar a 12%”, lembra Viana.

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