"Tudo verde." Foi assim que a enfermeira Sandra Barbosa, 64, encontrou sua casa após passar um mês de férias na Europa. "Não deu para recuperar nada. As paredes tiveram de ser repintadas", conta ela, que afirma ter jogado fora todos os móveis da sala e também alguns eletrodomésticos.

Em estações muito úmidas, como neste verão --só em janeiro, choveu em 27 dos 31 dias do mês--, é muito comum o mofo (sinônimo de bolor, já que ambos são causados pelo mesmo tipo de fungo) entrar em casa enquanto a família sai de férias.

O que causa essa "invasão" é a combinação de calor e umidade acumulada. "Em janeiro, choveu um volume 34% maior do que a média para o mês", explica Marcio Custódio, chefe de operação da previsão de tempo da Somar Meteorologia.

Deixar a casa fechada, sem circulação de ar, é prato cheio para os fungos, que adoram umidade e se espalham por alimentos, calçados, tecidos e até materiais como tintas, vernizes e celulose (presente na madeira), de acordo com a bióloga Regina Teresa Rosim Monteiro, do Cena (Centro de Energia Nuclear na Agricultura) da USP de Piracicaba.

Limpeza

Se a casa foi tomada por manchas e pontos pretos, a solução é munir-se de água, escova e produtos químicos, como água sanitária e detergente, e partir para a limpeza. É possível remover o bolor de estofados, azulejos e paredes com boas esfregadelas, se ele for superficial. Mas se não sair na limpeza básica, é preciso recorrer a ajuda profissional para tirar a sujeira de estofados ou repintar a parede.

Apesar de passar dias limpando o bolor dos móveis, o assistente financeiro Evandro Gonçalves Silva, 29, conta que a faxina não foi suficiente e que terá de refazer a pintura das paredes.

Quando voltou de férias, há cerca de um mês, deparou-se com mofo espalhado por todos os cantos: sofás, móveis e paredes --nem os ímãs da geladeira escaparam. "Foi um choque. Até o vaso que fica em cima da geladeira estava cheio de água", lembra.

Para Josélia Pegorim, da Climatempo Meteorologia, a melhor precaução é garantir a circulação de ar. "O ambiente fica mais fresquinho e não acumula umidade", explica a meteorologista.

Em paredes emboloradas, a engenheira Eliene Ventura, do departamento técnico da Otto Baumgart/Vedacit (fabricante de impermeabilizantes), recomenda detectar a fonte de umidade e verificar se o reboco (camada de massa que prepara a parede para a pintura) está firme ou se começa a esfarelar. "Se estiver soltando, deve ser removido completamente, até chegar à alvenaria, para que a impermeabilização seja feita."

Impermeabilização

Quem tem jardins em casa (ou vizinhos que cultivam plantas na terra) geralmente sofre mais com o acúmulo de umidade. Isso porque a água retida no solo move-se em direção às paredes e ao piso.

Se eles não foram bem protegidos, manchas e pontos pretos logo afloram. Custódio reforça que a invasão de fungos neste verão não tem relação com o fato de a casa estar próxima de praças e outras áreas verdes.

Casas que ficam sobre lençóis freáticos (canais subterrâneos, porém superficiais) também têm grandes chances de terem problemas com a umidade. "O ideal é fazer um sistema de drenagem no terreno antes de erguer o imóvel", explica o engenheiro José Roberto Peres. Para evitar que a água suba pelas paredes, deve-se impermeabilizar a estrutura desde as fundações.

Quem optar por revestir o piso de carpete ou assoalho de madeira deve usar cimento cristalizante na impermeabilização, recomenda Peres. Para o engenheiro, pisos de cerâmica são muito resistentes à umidade. É possível aplicar o impermeabilizante mesmo se a casa já estiver pronta: basta retirar a cobertura do piso.

Em telhados úmidos que apresentem problemas como manchas, a solução é fazer a impermeabilização, mesmo se ela já tiver sido feita antes. "O melhor é retirar o produto anterior e aplicar um novo em todo o telhado. Não dá para fazer retoques", diz. Sanches lembra que o tempo médio de vida dessa proteção de dez a 15 anos.