Estabelecimentos comerciais tentam sobreviver na rua José Bonifácio, que já teve uma rede hoteleira de prestígio.

IGOR SAVENHAGO

Paralela à avenida Jerônimo Gonçalves, a rua José Bonifácio tem vocação para os negócios. Desde o seu surgimento, no final do século XIX. Inteirinha tomada por estabelecimentos comerciais, segue a tendência de quando era freqüentada pelos viajantes que chegavam a Ribeirão Preto pela Estação Ferroviária Mogiana, fundada em 1883 onde é a atual Rodoviária.

Naquela época, quando Ribeirão ainda era a Vila de São Sebastião, a José Bonifácio, que ganhou esse nome em 1885 e foi instituída, oficialmente, em 1897, através de uma lei municipal, já gozava de intenso prestígio econômico.

Para aproveitar o agitado movimento de pessoas em torno da estação, os donos de terrenos e imóveis nas proximidades se apressaram em implantar lojas e armazéns - é nesse período que surge o Mercado Municipal -, residências para abrigar os funcionários, depósitos para guardar um grande volume de produtos e, principalmente, hotéis, pensões e hospedarias para oferecer um leque de opções a quem procurava um lugar para passar a noite.

De acordo com o arquiteto Éder Donizete da Silva, que em 1998 estudou, em sua dissertação de mestrado apresentada à Unesp de Franca, a decadência das construções da José Bonifácio, a rua teve uma importante rede hoteleira durante muitos anos.

Em entrevista por telefone à Gazeta, Silva, que nasceu em Ribeirão Preto, mas atualmente mora e dá aulas em Pernambuco, afirma que, com o passar do tempo, a cidade cresceu em outras direções, o que provocou uma diminuição da influência dos locais próximos ao córrego na economia da cidade.

"Até hoje, a região da José Bonifácio tenta se livrar da denominação "Baixada", que, na minha opinião, é pejorativa. Mas, além da expansão da cidade para outras áreas, essa imagem negativa tem uma explicação curiosa. Como os hotéis eram muito freqüentados por moças que vinham se apresentar nos teatros e bares em Ribeirão, suspeitava-se que a José Bonifácio era um reduto de turismo sexual, de prostituição e, com isso, um terreno fértil para outros problemas, como o tráfico de drogas", explica.

Os hotéis desapareceram, mas essa associação da rua com a criminalidade não foi totalmente apagada. Em contrapartida, a tradição comercial também permanece viva, puxada pelo setor automobilístico. As lojas de peças para motocicletas são as mais comuns. Uma vizinha a outra.

Patrono da Independência

José Bonifácio de Andrada e Silva ficou conhecido como o "Patriarca da Independência", por sua participação no processo de preparação e consolidação da libertação brasileira das mãos dos portugueses. Nascido em Santos no dia 13 de junho de 1763, foi um dos mais importantes líderes da política nacional no reinado de D. Pedro I. Sua família era uma das mais ricas de sua cidade natal.

Aos 21 anos, Bonifácio partiu para estudar na Universidade de Coimbra, onde se especializou em Mineralogia. Já em 1822, quando ocupava o cargo de ministro no Brasil. Chegou a ser apontado como um dos homens mais poderosos do país. Após a proclamação da Independência, no entanto, surgiram divergências entre os partidos políticos da época.

Democratas e aristocratas entraram em choque. Bonifácio, líder do grupo aristocrata do Partido Brasileiro iniciou uma campanha para afastar os democratas de D. Pedro. Os conflitos, aos poucos, foram enfraquecendo o Ministério dos Andradas, que se acentuou após a renúncia de Pedro, em 1831. (Gazeta de Ribeirão)

PERSONAGENS

Luiz Geraldo Fernandes, dono de bar, 20 anos na José Bonifácio. "Essa rua é muito importante para mim, com o que ganhei aqui que criei minhas filhas".

Paulo Varalda, dono de loja de música, há 20 anos na rua. "Praticamente nasci aqui. Minha família tem essa loja há 75 anos. Não saio daqui".

José Alberto Correa, dono de loja de armas e pesca há 29 anos. "Teve muita prostituição, mas diminuiu. Por isso, tem que parar de chamar de Baixada".

Ana Rosa Teixeira, tem loja de peças há 14 anos. "Apesar de a região ser mau vista, eu gosto. Acho que estou no local exato. Só fico chateada com as enchentes"