O piso da antiga casa ou do apartamento de décadas quebrou. E agora? Sem problemas. Muito provavelmente será possível substituí-lo por outro igual, novinho em folha. E tão antigo quanto, é claro! E mais: sem qualquer prejuízo ao projeto arquitetônico. Nas lojas de pisos fora de linha, chamadas popularmente de asilos ou cemitérios, é possível encontrar peças de antigas coleções que já não se fabricam mais e, portanto, não podem ser encontradas nas revendas de materiais de construção.
Especializadas
Em Ribeirão Preto, pelo menos quatro lojas são especializadas no atendimento de pisos fora de linha, todas elas localizadas nos Campos Elísios e com mais de 20 de anos de experiência.
Há 23 anos no ramo, Noel João Bezerra, proprietário de duas unidades em Ribeirão, diz que seu acervo consegue atender em média 80% dos pedidos de seus clientes. As demais solicitações são feitas por encomenda. “É possível encontrar peças para atender 15% destes pedidos; somente 5% dos casos não têm condições de serem atendidos”, detalha Bezerra.

ESTRATÉGIA
Lojas atuam em redes para atendimento de pedidos

Quando o piso não é encontrado na loja, começa uma verdadeira rede de busca que ultrapassa as fronteiras locais. “O Brasil todo é fonte de abastecimento”, diz o lojista Noel João Bezerra, ao referir-se que existe um intercâmbio entre as lojas do setor em todo o país. Além das cidades da região e da capital, as lojas fora de linha costumam fazer pedidos em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pará e Goiás, principalmente. “Trazemos o material para o cliente de onde for”, comenta.
Estoque
O volume do estoque os comerciantes não sabem precisar, mas para atender à demanda, considerada elevada e crescente, eles adquirem material antigo de construtoras, fábricas, lojas, demolidoras e particulares. O valor dos pisos varia conforme idade, tamanho e escassez do produto no mercado. Quanto mais antigo e mais raro, mais caro. A média de preços gira em torno de R$ 2 a R$ 20 a unidade, mas é possível encontrar peças a partir de R$ 0,50 até R$ R$ 50.
Espessura
É o caso de um piso de cerâmica com cerca de 80 anos de idade, de mais de um centímetro de espessura, com impressão em alto relevo. “É uma obra de arte”, justifica Bezerra.

DEMANDA
Em busca de toque saudosista

Há dois perfis de clientes que procuram os cemitérios de pisos: aqueles que pretendem substituir peças danificadas e os que querem dar um toque saudosista na arquitetura do ambiente.
“A reposição, porém, está sempre em primeiro lugar”, comenta Felipe Ivo, do Cemitério dos Pisos e Azulejos.
Vazamento
A funcionária pública Maria Perpétua Santana precisou recorrer às lojas de pisos fora de linha depois que um vazamento em sua residência danificou parte do piso do banheiro e da área de serviço.
Ela encontrou o que precisava, mas achou o preço caro. “Setenta reais dez pisos”, isso porque eu chorei na hora de pagar”, reclama.
Na opinião dos comerciantes, é “um caro que não é tão caro assim”. “Ao invés de trocar o piso de todo o ambiente que ficaria bem mais caro, a pessoa tem a opção de trocar uma única peça”, compara. Pensando assim, Perpétua concorda. “Com certeza eu gastaria muito mais se tivesse que trocar todo o piso da área de serviço”, calcula.

 

Jornal A Cidade -15/01/06

Anna Regina Tomicioli

 

foto: Jefferson Barcellos