A Indústria da segurança põe à venda dispositivo que identifica e informa via torpedo e e-mail todo o entra e sai de condomínios e apartamentos.
O gerente comercial da Bosch, Marcos Menezes, 40, vai direto ao ponto: os atuais sistemas de segurança eletrônica já permitem não apenas antecipar-se aos movimentos dos bandidos, flagrando-os quando tentam entrar onde não foram chamados. Se aplicados aos locais de moradia, permitem que se configure -o termo é dele- "um verdadeiro dispositivo de gestão familiar".
"Não é mais necessário perguntar ao porteiro a que horas o técnico da televisão entrou em casa -e que horas ele saiu; ou se a babá foi embora mais cedo. Também não será mais preciso indagar ao filho a que horas ele voltou para casa, e quem estava com ele." Basta programar o sistema de análise da câmera de segurança para que envie essas informações por e-mail ou torpedo para o pai ou mãe do garotão. Adeus, desculpas esfarrapadas.
A Folha pergunta se não seria mais eficaz e barato pegar o celular e perguntar ao porteiro ou ao filho. O vendedor dá uma piscadela: "O que seria mais objetivo? Isso é gestão familiar. Todo mundo remoto e todo mundo on-line ao mesmo tempo".
Um sistema de controle inteligente de portaria e garagem, capaz de registrar e armazenar 100 mil transações (entradas e saídas) sai a partir de R$ 13 mil.
"CRIMES AMERICANOS"
Na Feira Internacional de Segurança, que ocorre até amanhã no Pavilhão Verde do Expo Center Norte, os grandes exibidores decretaram obsoletos aqueles circuitos internos de vídeo que mal capturavam os vultos dos personagens em uma cena.
As novas camerazinhas de segurança já são capazes de captar imagens em HD ou alta definição. Preços: a partir de R$ 800.
"Sabe aquelas cenas de crimes americanos que passam na TV e que parecem filmes, tal a qualidade das imagens? Vai dar para fazer igual aqui", diz um expositor.
Essa alta resolução está acoplada a sistemas de análise que transformaram os equipamentos em verdadeiras sentinelas. Mesmo que o porteiro esteja sonolento, que não esteja nem aí para o monitor do circuito de vídeo.
Pode-se programar as câmeras para cumprir várias funções: detectar um intruso, fazer a identificação facial (a partir de um banco de dados previamente compilado), contar os presentes em um local, perceber furtos -e para emitir alarmes todas as vezes em que uma situação crítica se apresente.
Sabe aquele namorado da sua filha, que você considera péssima influência? Basta programar a câmera para gerar um aviso sempre que ele entrar na sua casa.
Pode ser um sinal sonoro ou luminoso, para afastar o invasor, pode ser um aviso na central de polícia, na portaria ou no celular do proprietário do imóvel.
No estande da Panasonic, o engenheiro eletrônico Luís Sergio Correia avisa que em alguns meses um novo software permitirá ao sistema inteligente discriminar visitantes por sexo e faixas de idade, além de gerar gráficos com com essas informações (quantidade de pessoas, fluxo por horário). Serve para controlar as baladas no salão de festas no condomínio.
As novas câmeras analíticas não aceitam o desaforo de terem suas lentes cobertas ou destruídas, para que uma cena não seja registrada. Mandam avisos quando algo tampa seu campo de visão.
Trata-se de um mercado que no ano passado movimentou cerca de R$ 710 milhões, segundo a Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica). Em 2008, foram R$ 130 milhões.
Tem para todos os gostos. Um equipamento de reconhecimento facial (preço: R$ 8.000) acoplado a uma porta, por exemplo, só permite o acesso de indivíduos cujos rostos tenham sido previamente registrados.
Detalhe: o aparelho não se deixa enganar nem por barbas postiças nem por perucas nem por lentes de contato nem por fotografias.
Tecnologia cria mundo onde é quase impossível contar mentiras
Câmaras inteligentes, radares de velocidade, softwares de reconhecimento biométrico, testes de drogas. A tecnologia vai criando um mundo onde é virtualmente impossível mentir.
De um lado, essa é uma boa notícia. Os gadgets possibilitam ambientes mais seguros, com menos fraudes eletrônicas e mortes no trânsito, por exemplo. De outro, inibem o que parece ser um instinto humano: a mentira.
A afirmação é meio forte, mas mentir é parte da natureza humana. Como mostra o psicólogo Robert Feldman em "The Liar in Your Life" (o mentiroso em sua vida), estudos sugerem que bebês de apenas seis meses já simulam choro e gargalhadas para atrair a atenção dos pais.
Entre os três e o sete anos, crianças submetidas a experimentos em que se comprometem a não espiar escondidas um objeto desobedecerão à regra em 82% das ocasiões. Pior, mentirão sobre isso até 95% das vezes.
As coisas não melhoram quando crescemos: no curso de uma conversação de meros dez minutos em que dois adultos se apresentam, eles mentem uma média de três vezes cada.
É claro que há mentiras e mentiras. Existem desde as inverdades socialmente necessárias, como elogiar a comida da sogra, até as ostensivamente fraudulentas, como falsificar dinheiro.
Distinguir entre os dois tipos e seus intermediários é uma tarefa que exige habilidades sociais inatas. O risco de transferir a empreitada para máquinas, incapazes de enxergar a diferença entre cortesia e crime, é tornar a vida social ainda mais difícil.
Em resumo, há mentiras que não queremos descobrir.