Os adolescentes testam seus limites o
tempo todo e vivem na corda bamba.
Saiba como orientar seu filho
Rebeldes e impulsivos, os adolescentes testam seus limites e põem a vida em risco rotineiramente. Comportamentos típicos da idade, como a prática de esportes radicais, a descoberta do álcool, sexo, drogas e o gosto pela velocidade, às vezes deixam saldo trágico. Some-se a isso a criminalidade que impera nas grandes cidades, e está criado um cenário de preocupação para os pais. O que fazer? Segurá-los em casa? Adotar uma postura rígida e intolerante? Não adianta, dizem os especialistas. O problema é mais complexo que isso. Impor limites é tão importante quanto saber entender as atitudes típicas da idade. A única coisa que se deve perseguir obstinadamente é a abertura do diálogo para que, no momento em que o adolescente tente dar o vôo de independência, possa ter um referencial que o guie.
A começar pelo sexo. Na adolescência, que vai dos 12 aos 20 anos, meninos e meninas se vêem às voltas com as primeiras descobertas sexuais. A explosão de hormônios é incontrolável. É nesse momento que a descoberta do sexo cria o perigo real de uma gravidez precoce. Nunca o acesso à informação esteve tão disponível, mas, só em 1999, 1 milhão de garotas até 19 anos deram à luz no Brasil. A vida vira um transtorno para uma adolescente que se vê grávida de uma relação sexual eventual e descuidada. Às cobranças da sociedade, soma-se a dificuldade real de criar uma criança sem a maturidade nem, na maioria das vezes, as condições financeiras para isso. A maternidade precoce ainda não é o pior tormento. Um comportamento displicente pode causar danos bem maiores.
As campanhas sobre os riscos de contrair Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis não compensam a dificuldade dos pais em falar sobre sexo com os filhos. Esse é o terreno no qual germinam a ignorância e a falta de cuidados. E a conseqüência é um desastre. Segundo pesquisa recente da Faculdade de Saúde Pública da Universidade São Paulo, seis em cada dez universitárias não recorrem à camisinha. Os números confirmam a gravidade da situação: 43% dos casos de Aids notificados até 1998 pertenciam à faixa etária de 25 a 34 anos. Como o período de incubação do vírus HIV é de dez anos, chega-se à conclusão de que a contaminação ocorreu entre 15 e 24 anos. Elas não passavam de meninas.
Os problemas da adolescência não são menores entre os rapazes. Do total de mortes da população masculina nessa idade, 68% se devem a causas violentas, como homicídios, suicídios e acidentes de trânsito. Nos últimos quatro anos, houve aumento de criminalidade entre adolescentes, especialmente entre garotos de classe média. Em 1996, os jovens eram protagonistas de 3% dos registros policiais. Atualmente o índice supera os 10%, segundo a Promotoria de Justiça do Rio de Janeiro. Os pais possuem motivos de sobra para se preocupar quando os filhos saem de casa para se divertir. As pesquisas comprovam que os adolescentes estão bebendo mais e mais cedo. Segundo o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, cerca de 70% dos estudantes brasileiros de 10 a 18 anos já consumiram álcool. Destes, 20% bebem mais de seis vezes por mês. Diante dessa realidade, quando uma noitada com amigos pode acabar em tragédia, não há outra saída. A velha e boa conversa no sofá da sala pode ser a maior proteção que se dá a um filho.
APRENDA A LIDAR COM ELES
Álcool – Entre os alunos do ensino médio e fundamental, 65% já experimentaram álcool. Segundo pesquisa da Escola Paulista de Medicina em dez capitais, o álcool é a droga mais usada pelos estudantes. É a causa de 70% dos acidentes automobilísticos entre os jovens
O que fazer – Chegar embriagado uma única vez em casa não é sinônimo de alcoolismo, mas é boa razão para uma conversa. Quanto mais cedo você começar a orientar seu filho, melhor. Não adianta gritar, agredir ou dramatizar. O diálogo é o melhor caminho, segundo os psicólogos
Drogas – Mais de 700 toneladas de maconha são consumidas anualmente no país. Um levantamento entre estudantes de dez capitais, feito pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, revelou que o uso da maconha quadruplicou em dez anos
O que fazer – Carinho e diálogo são as melhores armas para combater as drogas, segundo especialistas. Se o problema for mais sério, converse com um médico de sua confiança e peça orientação sobre clínicas e serviços especializados. Fique atento aos sinais de dependência, como transtornos físicos, perda da noção de higiene e dificuldade de concentração
Automóvel – Quase 7 000 jovens de 15 a 24 anos morreram em acidentes de trânsito em 1998. Pesquisa da Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo mostra que 40% das ocorrências envolvem adolescentes – principalmente nas madrugadas de sábado e domingo, quando o número aumenta 17%
O que fazer – Avaliar o comportamento de seu filho antes de entregar-lhe a chave do carro é uma saída. Um indivíduo inconseqüente, caso em que se enquadra a maioria dos adolescentes, é também um motorista imprudente. Não arrisque. Ao deixá-lo solto no trânsito, tenha certeza de que ele assimilou os conceitos de direção segura
Gravidez precoce – O índice é assustador. Mais de 1 milhão de adolescentes até 19 anos deram à luz em todo o país em 1999. O número de meninas entre 10 e 14 anos que se tornam mãe no Brasil aumentou cerca de 31% desde os primeiros anos da década de 90, segundo o Ministério da Saúde
O que fazer – O melhor é tentar participar do mundo da adolescente, conhecendo suas amigas e assistindo aos programas de TV de que ela gosta. De nada vai adiantar proibi-la de sair ou namorar. Melhor ceder a um relacionamento um pouco mais liberal do que enfrentar as conseqüências da falta de diálogo
ASSUNTOS DIFÍCEIS
Arthur Cavaliere/Strana
O diálogo com o filho adolescente é sempre complicado, especialmente quando o assunto é sexo. Transpor as barreiras, no entanto, pode significar o caminho de uma vida livre de contratempos, como gravidez ou doenças sexualmente transmissíveis. Segundo a psicanalista Tânia Leão Pedrozo, da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro, cabe aos pais a iniciativa de aproximação. É deles a função de começar o diálogo, desde que de forma adequada. Suas recomendações:
Saiba ouvir. É importante tocar em assuntos como sexo e violência
Fale com franqueza, mas não seja permissivo nem perca os limites
Fique atento ao que acontece com seu filho. Procure observar sinais que indiquem possíveis mudanças de comportamento e tente entender os motivos
Saiba impor limites se ele chegar embriagado em casa, por exemplo. Ser pai ou mãe é saber exercer a autoridade
Conduza conversas amigáveis e evite ser categórico demais
O mais importante: não force a barra quando seu filho não estiver disposto a conversar. A relação tem de ser estimulada pelos pais, mas acima de tudo com naturalidade e vontade de ambas as partes