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Bancos dissimulam valor de planos de financiamento imobiliário.

Imagine programar uma das compras mais caras de sua vida, que demorará até três décadas para ser quitada, sem saber quanto vai ser gasto no final. Pois essa é a situação real de quem navega pelos sites dos bancos em busca de um número que resuma qual será a quantia total despendida no financiamento da aquisição de um imóvel, seja qual for o seu valor.


A Folha, com a ajuda do economista Miguel de Oliveira, vice-presidente da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), fez simulações de crédito imobiliário em oito endereços eletrônicos de bancos.


A conclusão foi que, pelos simuladores, é possível conhecer taxas de juro cobradas, valores de parcelas e outras condições, como seguro, mas não se pode cravar o preço final do bem e quão mais caro ele custará se comparado ao valor à vista.


E a obtenção dessa informação poderá exigir paciência e um esforço árduo mesmo se o interessado bater perna pelas agências -que foi também o passo seguinte da reportagem.


Nas agências


Nessa segunda etapa, obtivemos resultados distintos em oito instituições financeiras.


Apenas uma delas forneceu, impresso, o total final gasto após 240 parcelas, obtido com a aplicação de uma TR (Taxa Referencial) estimada para corrigir as mensalidades.


Nesse exemplo, um crédito de R$ 44 mil, para comprar um imóvel de R$ 55 mil, custaria, ao final de 20 anos, mais que o dobro do valor do bem, ou quase o triplo do dinheiro emprestado ao mutuário: R$ 112 mil.


Outro banco culpou justamente a impossibilidade de se prever a TR pelo não-fornecimento do valor final nos planos de parcelas variáveis.


Há os que não passam informações "tête-à-tête" na agência, apenas por telefone.


Em duas instituições, o atendente calculou, na hora, o total que o contratante gastaria ao final do plano.


Valor espantoso


O de uma delas, ao concluir que o financiamento de um imóvel de R$ 60 mil custaria mais de R$ 300 mil, espantou-se com o aumento: "Essa conta deve estar errada".


Não estava. "Os sites não dão esse valor total porque ele, de certa forma, depõe contra o plano de financiamento", analisa Miguel de Oliveira. "Mas é um direito do consumidor exigir essa informação."


O Procon-SP (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor), porém, relativiza esse direito, restringindo-o aos planos que têm parcelas pré-fixadas -leia mais sobre a posição do órgão sobre essa questão na página seguinte.


Segundo o economista, mesmo alguém que possua bons conhecimentos de matemática financeira teria dificuldade para calcular o total que pagaria no financiamento só com os dados que são disponibilizados pelos sites dos bancos.


EDSON VALENTE
Com DÉBORA FANTINI, da Reportagem local, MARIA CAROLINA NOMURA e MARIANA DESIMONE, colaboração para a Folha S. Paulo - 02/09/07

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