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A nobreza centenária dos ladrilhos.

Se essa rua, se essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava ladrilhar...
A antiga canção popular traduz hoje o desejo de muitas pessoas no projeto de suas casas ou de arquitetos. Como da arquiteta Mônica Ciconeli. Apaixonada por ladrilhos, ela utiliza esse revestimento centenário em seus projetos. “Eles lembram casa de avó, contam uma história”, define.
Justamente para recordar essas lembranças da infância que a fonoaudióloga Cristiane Matias de Campos topou brincar com a composição de ladrilhos na área externa da sua casa. “Me recorda os ambientes da casa da minha avó, todos em ladrilho. E dá um toque de romantismo”, fala.
A arquiteta utiliza o material em pequenas peças, como detalhes mesclados a outros revestimentos, em composições criativas, encrustados na madeira ou formando tapetes nos pisos. Os ladrilhos personalizam os ambientes. “Há como fazer tapetes, inclusive, em patchwork. Uma forma cirativa e mais econômica”, ressalta Mônica.
Para o arquiteto Marco Ferandini, além de ser um material clássico e de grande resistência, o ladrilho torna o espaço exclusivo. “O resultado estético é inconfundível”, opina.
No projeto de reforma de uma residência construída na década de 70 Ferandini usou o ladrilho como um dos elementos para criar uma ambientação típica dos anos 40. “Usamos em todos os pisos da casa. Em cada quarto usei uma estampa de acordo com o perfil de cada pessoa”, diz.
A nobreza centenária dos ladrilhos
JOYCE CURY  NO PISO Na última edição da Casa Cor SP, a arquiteta Esther Giobbi usou no espaço gourmet, ladrilhos hidráulicos com desenhos do arquiteto Flávio de Carvalho (1889-1973)

Retomada
O ladrilho hidráulico surgiu no Império Bizantino. Chegou ao Brasil na década de 20 pelas mãos de um cônsul suíço que ensinou a técnica de produção a imigrantes italianos, que moravam em São Paulo. “Meu bisavô foi um dos precursores na produção do país. Cresci acompanhando a produção dos ladrilhos. Quebrei muitos quando criança, hoje ajudo a construir. É uma honra manter um trabalho que começou em 1922, vivo”, conta Marcello Ruocco, diretor da Dalle Piagge.
Mas por um longo período esse material que até hoje mantém sua produção genuinamente artesanal praticamente desapareceu. “Nas décadas de 50 e 60, com a produção industrial da cerâmica o custo do ladrilho se tornou inviável e muitas fábricas fecharam. A produção de um dia de uma fábrica de cerâmica, equivale a um ano de produção de ladrilho”, conta.
A nobreza do material foi redescoberto pelos arquitetos nos anos 80, quando o ladrilho se tornou um produto decorativo. E voltou com tudo.
Na última edição da Casa Cor São Paulo, a arquiteta Esther Giobbi usou no piso do espaço gourmet, ladrilhos hidráulicos com desenhos do arquiteto e artista plástico Flávio de Carvalho (1889-1973). O piso representa os ‘cinco sentidos’ e foi criado por ele para sua própria casa, em 1930.
“Um resultado surpreendente. Um piso tradicional contrastando com o que há de mais moderno em tecnologia”, opina Marcello Ruocco, diretor da Dalle Piagge.

Das mãos do artesão
Das mãos dos ladrilheiros nasce cada peça de ladrilho, num processo totalmente artesanal, sem envolvimento de máquinas. “Uma peça leva em média 20 dias para ser produzida”, ressalta Ruocco.
Para Ferandini é justamente esse o ponto forte do ladrilho. “É um trabalho humano e com um resultado lindo”, diz.
Em Ribeirão Preto uma fábrica nos Campos Elíseos mantém a tradição dessa técnica. O proprietário, Antônio Élvio Siqueira, de 54 anos, é ladrilheiro há quase 40 anos. Depois de trabalhar por mais de 37 anos numa fábrica da cidade, quando ela fechou ele comprou os equipamentos e montou a sua própria produção. “É uma arte e há poucas pessoas que ainda se dedicam a ela, principalmente na nossa região”, comenta.
Técnica que ele está passando para o filho.
“É um trabalho antigo e artesanal que precisa continuar”, fala. A fábrica existe há três anos e hoje fica num terreno de 400 m2 nos Campos Elíseos. Com apenas quatro ladrilheiros tem capacidade para produzir cerca de 250 m2 de ladrilho por mês.
“Fazemos tudo com amor. É uma satisfação muito grande ver o resultado do trabalho na obra. Às vezes nem acredito que fomos nós que fizemos”, confessa.
Apesar de poucos fábricas os apaixonados por essa técnica, como os arquitetos entrevistados, sabem o valor histórico e técnico de ladrilho.


Jornal A Cidade - 28/07/07

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