Estética x lucro Arquitetos apontam o que veem como o ideal para guiar o crescimento de grandes centros
Em constante movimento, a cidade não para de crescer e constrói uma nova imagem a cada dia que passa. Convidados pela Gazeta, alguns arquitetos brasileiros que estavam na cidade para a Semana de Arquitetura da Associação de Engenharia, Arquitetura e Agricultura de Ribeirão Preto (AEAARP), comentaram o futuro das expansões urbanas.
Vencedor do Prêmio Pritzker em 2006, o principal da arquitetura mundial, Paulo Mendes da Rocha acredita que a cidade é um lugar que aproximou as pessoas ao longo da história. “É o encontro de diversas culturas. Mas o mercado imobiliário esquece a beleza das coisas e constrói o que vai dar mais lucro”, disse. Para ele, o mercado não pode dominar as ações da arquitetura. “Porque não diminuir o preço do metro quadrado e aumentar o tamanho dos espaços? Um lar precisa ser arejado, um lugar de educar os filhos e não um cubículo para dormir”, opinou Rocha.
Já o arquiteto Ernesto Giovanni Boccara acredita que a estética da arquitetura será modificada pelo problema com materiais naturais. “Está começando uma nova relação entre homem e natureza. Na busca por reduzir o impacto ambiental, o uso de materiais convencionais será mais consciente e haverá pesquisa por materiais alternativos, renováveis”, disse. Boccara acha que, assim como em meados da década de 20, a tendência será de que “menos é mais”. “Os espaços privados serão reduzidos e os espaços públicos terão atenção especial. O comportamento vai mudar e a população vai sair mais de casa e terá uma vida mais coletiva.”
Com obras expostas na principal bienal de arquitetura, em Veneza, Mario Biselli é responsável pelo novo terminal de Florianópolis. O arquiteto também vê o futuro da arquitetura na valorização do que é público. “Esse conceito de condomínios trancados em muros gera mais violência. Deve acontecer a democratização do espaço”, opinou. Para ele, mais pessoas devem começar a viver em prédios e em bairros multifuncionais. “Veja São Paulo, é impossível andar de carro, não tem espaço para nada. Então, os bairros devem ganhar comércio e todo tipo de serviço. Assim você mora perto do trabalho, do hospital, do teatro, etc”, disse.
Conceito é bem mais amplo
O meio ambiente está na moda. É comum ver panfletos de vendas imobiliárias com o conceito de sustentabilidade estampado. “Há uma banalização do que é sustentabilidade. Natureza não é somente o verde. Natureza são as águas, as pedras, a madeira. Então, não é porque tem uma área verde que o condomínio é sustentável”, disse o arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Apesar disso, ele acredita que uma nova cultura popular está sendo criada a favor do meio ambiente. “O pessoal já está mais atento. Instituições e organizações estão brigando por mudanças políticas. É um começo”, afirmou Rocha.
Na opinião do arquiteto, agora é preciso uma análise do que funcionou e do que está errado. “Se você sabe que é um erro, já sabe que o caminho é outro. O arquiteto deve pensar assim, mesmo que não saiba a solução, deve saber o que não fazer. Ele pode até encontrar a solução pelo método de exclusão”, disse Rocha. (RV)