Eles são jovens, inteligentes e cheios de fôlego. O entusiasmo com a arquitetura, principalmente pelo relativo começo de carreira, poderia atrair estes jovens profissionais para o viés da moda e das novidades e lançamentos em materiais.
No entanto o que acontece é o inverso. Os arquitetos da oficina de arquitetura Oh! mostram que os antigos valores devem ser mantidos.
Representantes da face contemporânea da arquitetura do interior de São Paulo estes jovens mostram que todas as escolhas das obras planejadas por eles têm fundamentação teórica e base funcional. Essas escolhas, normalmente rústicas, denotam um estilo reacionário pela falta de flexibilidade nas escolhas, mas pelo mesmo motivo remetem a subversão própria das novas tendências, mesmo que essas utilizem antigos valores. Para eles, rusticidade não é o termo adequado. Em suas palavras eles utilizam a arquitetura real.
Cor
O termo ‘arquitetura real’ vem da utilização das características dos próprios materiais das obras como elementos de cor. O mesmo acontece com as texturas. O arquiteto Matheus José explica que sempre que possível utilizam “materiais aparentes como tijolos e cimento. Para compor preferimos utilizar essas texturas naturais e não revestimentos com outras cores”.
Quando a obra requer cores, alguns fatores devem ser observados. Henrique Calbo, também arquiteto explica que em regiões de temperaturas elevadas, como Ribeirão Preto, os ambientes externos devem tentar amenizar a sensação de calor.
“Quando há utilização de cor ou revestimento preferimos cores neutras como o branco, amarelo e palha que, além de amenizar e equilibrar ambiente, combinam mais com os materiais que costumamos usar”, explica Matheus.
Um dos atuais projetos do escritório é a casa em estilo modernista de concreto branco associada a uma imensa chapa de cobre. Matheus explica que o cobre nesta obra terá outras funções além da cor. “Aqui teremos também o desgaste natural do material, que passará uma mutação inclusive na cor, já que o cobre quando sofre a ação do tempo vai ficando esverdeado”.
Casa terra
No entanto, quando há necessidade de se empregar cores mais vibrantes em seus projetos, a equipe diz que deve haver fundamentação, equilíbrio e funcionalidade. O exemplo mais claro está na casa projetada no condomínio Quinta da Boa Vista.
O cliente advertiu que havia presença abundante de poeira no terreno em que a construção seria feita. Mais que gosto por cores exóticas o futuro morador queria que o pó não ficasse aparente.
A solução proposta pelos arquitetos foi a substituição da areia fina do reboco pela terra fina do próprio local. O material, sem precisar de qualquer revestimento, ganhou a tonalidade da terra planejada.
A utilização dos materiais como valores agregados e elementos de cor trazem sempre identidade para as edificações. De acordo com a proposta do imóvel são escolhidos materiais e eventuais cores que terão a função tanto de amenizar quanto de destacar a edificação.
“Isso varia de acordo com a proposta do imóvel. Um consultório médico normalmente é claro, passando a máxima impressão de limpeza. Mas temos o projeto da casa de campo de uma artista plástica que quis que a edificação destoasse completamente do ambiente para que seus amigos a avistassem de longe.
Daí surgiu a construção da casa vermelha”, explica Matheus mostrando a maquete de uma construção pintada inteiramente de vermelho-sangue.
Para ele as cores têm influência direta na sensibilidade das pessoas. Dessa maneira a escolha da pintura dos ambientes deve ser planejada. “Como opção em ambientes mais clássicos, costumamos empregar as cores análogas em todo o contexto da edificação. Ao mesmo tempo deve-se tomar muito cuidado para que o ambiente não fique monótono”, explica.
O fato de as cores não representarem valores fixos do imóvel, ampliam a possibilidade de escolha e diminuem o trabalho em caso de arrependimento. Mas para outro integrante da Oh!, Paulo Beleti Filho, “nada é assim tão fixo. Se você não gosta de uma parede é só desmanchar. É simples assim”.
Gang anti-grafiato
A fala comum entre arquitetos e designers é de que ‘tudo pode ser possível dentro de um projeto’. Não é bem assim.
O arquiteto Matheus José explica que devem ser feitas importantes observações como o volume da edificação e sua relação com o espaço que ocupará. “Se não for agradável, pode-se utilizar elementos de cor, luz, sombra, e assim equilibrar o projeto. Nem sempre essas são as cores escolhidas pelo cliente, mas o bom senso deve prevalecer”.
O importante é iniciar a criação e só a partir daí é possível encontrar a melhor solução para cada projeto. “Não existe receita. Independente de encomenda e gosto do cliente, todo o projeto, incluindo a cor, deve vir do lugar, da situação”, afirma Paulo Beleti.
Mais que impor um padrão de construção ou decoração esses profissionais acreditam que o material por si próprio pode dar forma ao projeto. “Quando se coloca o material no ambiente, todo o contexto vai tomando forma. Não é necessário forçar, acontece naturalmente”, completa Fernanda.
Nem tudo é permitido
Mais que não empregar grafiato em suas instalações, os profissionais do escritório fogem de todo o tipo de textura padronizada. “Pode-se obter efeitos muito bons mesmo sem recorrer a esses recursos”, conta outra arquiteta do escritório, Fernanda Padula.
O toque de cor vem normalmente da associação do reboco com outro material como a madeira. Segundo esses arquitetos, isso reduz o custo da obra e mantém uma característica mais natural à edificação.
Atualmente o piso mais utilizado nas obras projetadas pelos profissionais da oficina de arquitetura é o cimento queimado. Mesmo assim o grupo considera difícil a tarefa de definir o que é moda mesmo dentre seus próprios projetos.
A opinião unânime é que se deve sempre buscar o que é novo. Fugir do que é padrão.
Publicação Jornal A Cidade - 16/10/05