Há pelo menos uma década a iluminação deixou de ser um coadjuvante nos projetos de decoração de ambientes e até mesmo em alguns projetos arquitetônicos. A dicotomia claro-escuro, nesse caso traduzido em luz e sombra, ganhou importância pela relevância que o contraste dá aos ambientes internos ou externos.
Em residências ou locais públicos, não importa. A ordem do dia é elaborar um projeto de iluminação que seja a “maquiagem” do ambiente, do prédio, segundo analisa o designer Rogério Magalini, especializado na área e que ainda cria muitas das luminárias que utiliza em seus próprios projetos.
Nesses dez anos, ao ganhar status similar ao de outros segmentos nos projetos de arquitetura, a iluminação passou a contar com profissionais que se dedicam a criar soluções que atendam às novas necessidades do mercado. Magalini é um deles. Ao lado do sócio, Aguinaldo Ferraz cria projetos de iluminação que têm como alvo endereços públicos dos mais variados. “Fizemos projetos para iluminar ambientes os mais diversos, que vão de motéis a igrejas”, confessa Ferraz.
Mas o forte da dupla são os restaurantes e algumas lojas. O Cupim da Avenida 9 de Julho, o Ateliê da Pizza, o Samânea, Moetá e Napoleon são alguns ambientes que eles iluminaram recentemente. “A tendência de algum tempo para cá não é mais utilizar a luz branca, chapada, que deixa todo o ambiente homogêneo”, afirma Magalini.
O que está em voga é utilizar luz difusa para o ambiente com alguns pontos de apoio, como luminárias e abajures. “É preciso deixar o ambiente, no caso de um restaurante por exemplo, mais aconchegante, mais romântico. Hoje, ninguém mais quer ir ao restaurante para ficar se exibindo. O consumidor quer discrição”.
Magalini adianta que um projeto de iluminação tem que atender a um gosto muito pessoal do empreendedor, mas também ajuda a cumprir a função do próprio empreendimento. “Numa loja de bolsas, por exemplo, não se deve usar uma iluminação branca homogênea. Deve-se usar um foco de luz sobre os produtos para que eles ganhem destaque e fiquem, sobretudo, valorizados”, ensina.
Para ele, é no comércio que a iluminação pode ter o caráter de maquiar o produto. Mas alerta: é preciso saber maquiar esse produto com a luz adequada. “As lâmpadas fluorescentes reproduzem mal os objetos de cores quentes. Para eles, as lâmpadas incandescentes são melhores porque não distorcem os tons das cores”. O decorador Alexandre Calil de Salles, especializado em projetos de iluminação para residências, diz que a iluminação deixou de ser complemento para ser motivo de preocupação. “Há projetos arquitetônicos que já contemplam a estrutura de fiação em função do projeto de iluminação que será implantado.”
Salles, Magalini e Ferraz concordam que a tendência moderna de jogar com luz e sombra determina o clima que se quer criar no ambiente. “Quando se determina um foco de luz sobre um objeto como um quadro numa parede, ou um vaso num canto da sala, naturalmente se valoriza o objeto. Mas a sombra pode ter uma função importante também. A de desviar a atenção das pessoas para uma possível imperfeição na construção ou no acabamento físico do local”, analisam. Para Salles, o excesso de iluminação ou um projeto mal elaborado pode eliminar o charme do ambiente. E esse erro pode ser fatal tanto para residência quanto para qualquer ambiente público.
Tendências
Numa residência, para ambientes sociais, como living, home theaters, halls de entrada, salas de jantar ou de almoço, deve-se utilizar uma iluminação indireta com lâmpadas AR 111, dicróica ou mesmo fibra ótica. “Só há uma residência em Ribeirão Preto que utiliza fibra ótica para iluminar ambientes”, garante. Para esses ambientes, segundo o decorador, é fundamental o emprego de ponto de apoios como luminárias, abajures ou mesmo lustres de bronze e cristais. “Há um resgate interessante desses tipos de lustre hoje em dia”. Tudo isso sempre com dimer, para controlar a intensidade de luz em função da ocasião social.
Nos quartos, a solução estaria em uma boa luminosidade central com ajuda de luminárias e abajures. Nos banheiros, Salles gosta de iluminação embutida no centro, de spots com lâmpada par 20, e nas pias, luz dicróica que lava as paredes.
Na área de cozinha, incluindo cozinha gourmet e lavanderia, uma boa luz central fluorescente com lâmpadas amarelas e para os armários que circundam esses ambientes, iluminação embutida para que em ocasiões de necessidade, se obter um ambiente mais aconchegante.
“Na área externa, o projeto de iluminação deve sempre ser ‘casado’ com o projeto de paisagismo”. Salles indica a utilização de espetos ou canhões de luz embutidos no chão dando destaque para plantas, molduras, colunas ou muros. “Dessa forma se consegue uma excelente iluminação de baixo para cima, dando imponência para casa”. O mesmo princípio, segundo o decorador, deve ser usado para a área da piscina, com emprego de lâmpadas azuis.
O uso de cores, no entanto, ainda é um problema. “Ribeirão Preto ainda é conservador para utilização de iluminação colorida. É mais comum usar em fachadas e em locais como motéis”, analisa Magalini que gosta de usar, sempre que consegue, cores frias nos projetos que cria.
Outra tendência apontada pelo designer é que é melhor utilizar poucas peças grandes do que muitas pequenas. “O melhor é iluminar um ambiente com pouca luz e ir acrescentando pontos de apoios na medida da necessidade, do que instalar inúmeras luminárias e vê-las sempre apagadas para que a iluminação não fique exagerada”.
Publicação Jornal A Cidade 24/07/05