E m um formato que conjuga feira de negócios e espaços decorados, a Abitare il Tempo, que se realiza todo mês de setembro em Verona, na Itália, é um grande fórum de debates sobre os novos modos de habitar. Tendo como pano de fundo questões como economia de energia, sustentabilidade e nomadismo, este ano o evento reuniu projetos de Carlo Colombo, Simone Micheli, Roberto Semprini e M.P.A Laboratorio di Architettura, aplicados à arquitetura residencial.
Na casa de Colombo, a interação do espaço com seu entorno foi o foco das atenções: da abertura total ao simples recorte, em uma “arquitetura ao ar livre”. Montados de dentro para fora, os interiores se articulam em duas grandes zonas - dia e noite - separadas apenas por um espelho d’água.
A integração entre morador e natureza, no entender de Colombo, uma das maiores expectativas contemporâneas, pode ser percebida em todos os detalhes: na abundância de água, no gramado frontal que se prolonga como uma grande área de convivência, na quase ausência de fechamento externo.
“Somente o pensamento responsável - associado ao genuíno desejo de criar - vai permitir que o homem continue a fazer de seu trabalho de transformação da matéria algo realmente válido e possível”, proclama o arquiteto italiano Simone Micheli, autor da Ecooarca, sua versão para a arca da salvação em tempos de turbulências sócio-ambientais.
Com sua geometria unitária - onde piso, paredes e tetos, de madeira, aparecem em solução de continuidade -, o projeto de Micheli representa uma ponte entre presente e futuro, em que a ideia da sustentabilidade vem definitivamente atrelada ao viver.
Propondo uma nova teia de relacionamentos entre o habitante e o espaço doméstico, a força icônica dos móveis pontuais identifica os os ambientes, enquanto a luz, alimentada pelos painéis de captação de energia solar instalados no jardim, tem seu potencial simbólico reforçado.
“As alterações de comportamento são meu principal estímulo”, revela o arquiteto, que adora a ideia de transformar sonhos em realidade. “Por que não projetar um dormitório onde a mesa de trabalho surja em continuidade à cama? Ou móveis que pareçam flutuar? Quem sabe equipamentos sanitários mais orgânicos? Para um novo homem, uma nova morada.”
Com Micheli concorda Roberto Semprini, para quem a casa, mais que estilo, deve refletir responsabilidade ambiental, o que, nem de longe, significa monotonia. “Vivemos em uma era rica de recursos. A casa pode ser simples sem ser chata. Existe muito de poesia na vida de um projeto sustentável”, afirma.
“Como formato, optei pelo desenho que a criança faz da própria casa, uma das suas primeiras manifestações gráficas. E a ele acrescentei uma parede verde”, conta Semprini, que, na criação de sua Green Home - já disponível no mercado italiano em versão pré-fabricada -, usou a madeira como elemento estrutural e construtivo.
Com superfície total de 100 m², o objetivo do projeto foi atingir o equilíbrio entre um viver sustentável e o conforto contemporâneo. O jardim vertical da fachada, por exemplo, tem dupla função: adorno e isolante térmico.
A preocupação com o consumo de energia se revela também na planta e na distribuição das aberturas. Enquanto uma das fachadas oferece janelas específicas para cada ambiente, a outra se abre para o jardim, aumentando a oferta de iluminação natural.
Minimalista, o interior do imóvel tem no branco e nas formas orgânicas - notavelmente na escada, com seus degraus esculturais - seus pontos altos. “Para enfatizar o silêncio, optei por poucos móveis e por eliminar contrastes de cores. Assim, dá para observar melhor as estrelas”, brinca o arquiteto.
Em um quase manifesto de volta às origens, é de outra ordem a reflexão do grupo de arquitetos do M.P.A, Laboratorio di Architettura sobre a casa contemporânea. “A informática impôs uma atmosfera artificial aos espaços domésticos. Um funcionamento que pode ser adequado à vida urbana, mas que não leva em conta a dimensão humana”, sustentam.
A partir dessa constatação - e da ousadia de abrir mão de qualquer padrão estético vigente -, o grupo apresentou o projeto Ca(S)a: uma arquitetura concebida em módulos de madeira, que servem de base para espaços customizados, implantados em diferentes locações.
Nos espaços dedicados ao estar e aos dormitórios, bases acomodam elementos acolchoados que podem servir de cama ou sofá. Na área de banho, a banheira vem acoplada. E, na parte externa, os módulos pode funcionar como pequenas oficinas.
A proposta do grupo ambiciona a reaproximação entre o morador e a natureza. “O homem precisa voltar a se sentir um ser biológico, a respeitar seus ciclos, suas mudanças de ritmo e mesmo de endereço.” Os módulos, como caixotes, reforçam o sentido de provisoriedade da existência e a permanente necessidade de readaptação. “Propomos uma morada para corpo e espírito, sem nada de nostálgico ou regressivo.”