O arquiteto Domingos Guimarães herdou do pai a paixão pelas plantas. Desde criança tem prazer em cuidar do jardim. “Ele tinha um orquidário, várias samambaias e avencas. Eu ficava mexendo junto com ele”, conta.
Apesar de ter apenas conhecimento empírico, com a experiência aprendeu na prática a perceber as mudanças de comportamento das plantas no decorrer das estações. “Observo as transformações com a mudança da temperatura e da umidade do ar. No inverno, por mais cuidado que tenhamos, elas não ficam tão exuberantes”, comenta.
Para Domingos, cuidar das plantas é quase uma terapia. “Às vezes chego à noite e vou cuidar do jardim”, diz. “Me relaxa”.
Por conta dessa relação com as plantas, quando projetou sua casa o arquiteto priorizou a interação entre a área externa e interna. “Pensei na incidência de luz natural. A casa é muito iluminada para que eu possa ter diversas espécies no interior”, fala.
Como mora num condomínio em Bonfim Paulista, onde a temperatura chega a ser dois graus a menos do que em Ribeirão Preto, algumas plantas são recolhidas na estação fria. “As plantas mais sensíveis, como as avencas ficam na sala”, explica.
Por outro lado, ele comenta que no clima seco algumas plantas florescem, como os ipês. “Tenho orquídeas que dão flores apenas nessa época”, conta.
Sono das plantas
Assim como o ser humano, as plantas se recolhem no inverno. Entram num período de sono e seu metabolismo é reduzido, em função dos dias mais curtos. “No nosso inverno, além da menor incidência de luz a água também é mais escassa”, explica o engenheiro agrônomo e entomologista Fabrício Sicardi.
A falta de luz interfere na produção hormonal da planta. Antes do recolhimento as plantas estoquem os nutrientes que usarão durante o inverno. Por conta desta absorção é que as folhas amarelam e caem no final do outono. E retornam sua vitalidade com todo o vapor na primavera. “Quando acontece a explosão de folhagens e flores”, fala Sicardi.
Adotar alguns cuidados no inverno vai fazer com que seu jardim ‘floresça’ mais forte e saudável na estação das flores.
Sentem mais
As plantas tropicais são as que mais sentem durante o período do inverno. As folhas ficam queimadas e sem viço. “Elas precisam de muita umidade e temperaturas mais elevadas”, explica.
Rega
O estado de dormência interfere nas podas e regas. Como as plantas diminuem a atividade metabólica durante o inverno e a evaporação é baixa, elas não necessitam de tanta água. A rega deve ser diminuída em quase 50%. Senão, há o risco de encharcar o solo, propiciando a formação de fungos.
Mas o engenheiro agrônomo ressalta que como a umidade é mais baixa, não se pode abandonar a atenção com a pulverização das partes aéreas, borrifando água nas folhas. “Como chove menos neste período, a borrifação remove a poeira. Além de deixar a folha mais viçosa e bela, vai facilitar a absorção de luz e produção de nutrientes”, informa.
Em algumas plantas pode-se utilizar o adubo foliar durante a borrifação.
Adubação
Como chove menos o solo tende a reter mais adubo no inverno, como no caso do solo argiloso. Já o arenoso vai precisar de maior freqüência de adubação, já que a água consegue lavar mais facilmente os nutrientes. “O ideal é adubar a cada 15 dias, independente do tipo de solo”, lembra.
Poda e transplante
Quem segue a sabedoria popular de que os meses sem a letra ‘r’ são os melhores para a poda, segundo Sicardi, usa um critério valioso. O recolhimento típico do inverno, torna o período propicio para podar e transplantar a maioria das espécies.
“Ela sentirá menos. Quando podamos manipulamos a atividade hormonal da planta”, diz.
A poda prepara a planta para a renovação na primavera. “A circulação do hormônio vai permitir que as gemas brotem e nasçam novos galhos. Com isso ela terá mais folhas, aumentando a absorção de água e nutrientes. As flores serão saudáveis e as sementes terão melhores condições de germinação. Sem poda desperdiçamos a chance dela desenvolver novos ramos”, explica o engenheiro.
Se mesmo com esse zelo a planta não estiver em sua plena forma em setembro, significa que a sua revitalização natural foi afetada. É hora de buscar um especialista. “Pode ser sinônimo de alguma doença ou desequilíbrio de nutrientes”, conclui Sicardi.
Os ‘oídios’ atacam no inverno
O oídio é causado por um fungo chamado ‘Sphaerotheca fugilinea’. Ele ataca várias culturas e plantas ornamentais. “Ele precisa de baixa temperatura e baixa umidade para se desenvolver”, explica o engenheiro agrônomo Fabrício Sicardi.
Surgem pequenas manchas brancas circulares nas folhas, que vão crescendo e que se parecem com um pó.
Mas existe uma fórmula simples para combatê-lo: uma mistura de 5% de leite de vaca cru e 95% de água. “É só pulverizar sobre a planta”, ensina Sicardi.
Jornal A Cidade -01/07/07