Os condomínios paulistas tornaram-se o segundo escritório de empresários e administradores de empresas. A dupla jornada de trabalho destes profissionais é evidenciada com o perfil do síndico feito pela empresa Lello, que administra 1.100 prédios no Estado. Confirmando a tendência de que donas de casa e aposentados ocupam cada vez menos espaço na liderança dos edifícios, a profissionalização da função, com a preferência por gente da área para comandar as tarefas residenciais, é a novidade no levantamento divulgado hoje, data em que é celebrado o Dia do Síndico.
Nos últimos três anos, o número de síndicos que são empresários passou de 23% para 27%. Em segundo lugar no ranking atual estão os administradores de empresas que, na lista de 2006, ficavam em 5º posição. Advogados também sobem no pódio deste ano - no último balanço ostentavam o 6ª degrau. Já os aposentados, que eram 9,8%, passaram para 8,7%. Mesmo declínio para as donas de casa, que caíram de 10,5% para 7,1%.
Os números divulgados indicam que casos como os de Odila Seprenuy, de 79 anos, e Albino Gonçalves, 72, são cada vez mais raros. Ela, do lar, está no posto de síndica há 20 anos em um prédio do Jaraguá, zona oeste paulistana. E diz que pode vir a moçada que vier, não sai de jeito nenhum. Do estilo linha dura - como se define -, fala que chegou ao posto para tentar “aliviar a dor de ser viúva”. “Desde então virou minha paixão. Ninguém cuida tão bem dos 36 apartamentos quanto eu.”
Já o seu Albino, aposentado, quer mesmo “sumir do mapa” e destinar o tempo livre para outras funções. “Quero deixar de ser síndico, mas o povo não deixa. É uma dor de cabeça que só vendo. A turma não dá trégua”, diz ele, que há 12 anos comanda um edifício em Moema, bairro da zona sul paulistana.
O trabalho pesado de ser síndico é sentido na pele pelo novato Nelson Flávio Oliveira Ramos, 33 anos. Administrador de carreira no horário comercial, ele tinha certeza que tiraria “de letra” o trabalho semelhante na vida pessoal. Mas… “Até briga eu já tive de separar”, conta ele, que só é síndico há seis meses. “As funções são semelhantes, mas administrar o condomínio dá muito mais dor de cabeça”, diz.
Segundo Angélica Arbex, gerente da Lello, as explicações para, na hora das eleições dos condomínios, os empresários, administradores e advogados ficarem na frente de quem, em tese, tem mais tempo livre e mais idade, é que as tarefas estão mais complexas. “Percebemos que nos últimos anos, os síndicos estão cada vez mais jovens e também mais preparados, no sentido de conhecer a legislação, os mecanismos de administração”, afirma ela.
Outro motivo para a profissionalização do síndico é que os condomínios cresceram. As previsões são de que, até 2011, dois em cada dez lançamentos de conjuntos residenciais sejam do estilo “mega”, com espaços que vão além da churrasqueira e piscina, com campo de golfe e pet shop.
E, quanto maiores os prédios, mais novos os líderes. Pesquisa do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi) confirma o novo perfil. O levantamento, divulgado em outubro, mostrou que 74% dos síndicos de prédios residenciais têm entre 30 e 60 anos. Somente 26% possuem mais que 60 anos - grupo antes que era maioria e sustentava o estereótipo de síndico já com cabelos brancos.
A diminuição da idade dos síndicos nos prédios comerciais é ainda mais evidente. Neste tipo de edifício, 86% estão na faixa etária entre 31 e 60 anos. “Os próprios condôminos exigem do síndico, hoje, conhecimento de tarefas que são mais presentes no cotidiano de quem é mais novo”, acredita Hubert Gebara, vice-presidente do Secovi. “Um dos exemplos é a tecnologia. Sem falar da sustentabilidade.”
O Estado de S. Paulo - 24/12/2009