É lugar comum dizer que latino gosta de aplicar suas economias em imóveis, tanto urbanos quanto rurais.
Quando se trata de imóvel urbano pode-se, grosso modo, dividir a aplicação, o investimento, em dois grupos: os imóveis construídos e os terrenos. A partir daí pode-se dividir – como fez o fisco municipal que cobra dois tipos de impostos sobre a propriedade imobiliária urbana, o ITU (Imposto Territorial Urbano) e o IPU (Imposto Predial Urbano), que formam, em conjunto, o IPTU – e olhar o desenvolvimento urbano de qualquer cidade.
O terreno – modalidade de investimento sempre muito festejada – pode ser objeto das preferências do aplicador por duas razões: para construir ou para ser objeto de reserva de poupança. No primeiro caso é bem de produção fundamental para a indústria da construção civil e mesmo para o mercado imobiliário, segmentos que absorvem boa parte da mão-de-obra disponível. Já no segundo caso, é reserva de valor.
A reserva de valor é sempre motivo de especial atenção. O Brasil oferece aposentadorias privilegiadas apenas para uma parcela muito pequena de brasileiros que recebem do poder público. A esmagadora maioria dos brasileiros sabe que precisa ter alguma poupança para sua velhice. E é aí que entra em cena o investimento em terreno urbano. Ou mesmo em imóvel já construído, no caso se o investidor estiver pretendendo ter uma renda mensal que vem sob a forma de aluguel.
Bom lembrar: a insuficiência de aposentadorias, garantidoras de uma velhice um pouco mais amparada, move as famílias a aumentar a prole e a investir em imóveis.
A espantosa população da China é explicada pelo fato de não haver previdência social que se preze naquele país. Lá é bom, é aconselhável ter muitos filhos porque, assim, pelo menos um cuida dos pais na velhice. E também é o que explica seu elevado nível de poupança nacional - próximo de 38% do PIB – porque é desta maneira que se consegue prever e prover os momentos de dificuldade, sobretudo no fim da vida.
É por aí que se entende também no Brasil – e em nossa região em particular – o fato seguinte: para cada um imóvel construído nas cidades há de dois a três terrenos vazios. Ribeirão Preto, por exemplo, com mais de 550 mil habitantes, sem precisar aumentar um metro de infra-estrutura, poderia abrigar população próxima de 1,5 milhão de habitantes. Em outras palavras: cabe dentro dos atuais limites de Ribeirão Preto, pelo menos mais duas cidades ou mais duas Ribeirão Preto.
Espaços vazios nas cidades são prova da vocação brasileira para poupar.
Antônio Vicente Golfeto
Jornal A Cidade - 01/01/06