foto: F.L.Píton/A CIDADEFerraz Jr.
Em dezembro do ano passado, mais especificamente a partir do dia 18, a vida começou a se transformar numa constrangedora dor de cabeça para seu Waldomiro Benedito da Silva e Pedro Alexandre de Ângelo, dois vizinhos de casa no bairro Nova Ribeirânea. O aterro do terreno dos fundos promoveu rachaduras que comprometeram a estrutura das edificações erguidas pelos proprietários das casas atingidas.
Situação mais grave para o segundo. Pedro teve que se mudar às pressas depois que o Corpo de Bombeiros interditou a edícula em que morava com a esposa. A chuva forte do dia 18 de dezembro fez com que a terra do aterro do terreno que faz divisa nos fundos, fosse compactada, o que promoveu rachaduras de até 4 cm de largura pela casa.
“Os peritos disseram que a casa só não desabou porque não tem laje”, afirma. Ele e a esposa tiveram que cancelar as festas de formatura de curso e de final de ano que estavam programando e passaram o Natal e Ano Novo hospedado em hotel.
Na casa de Waldomiro a situação é igualmente grave, mas atingiu a área de serviço. A edícula teve que ser amparada por um suporte de madeira, devido ao risco de desabamento. Agindo em conjunto, os dois entraram com uma ação que é uma medida cautelar de produção antecipada de provas, para conseguir na Justiça uma perícia que apure as causas das rachaduras e aponte o responsável para que realize as obras que façam cessar a rachadura e promova os reparos necessários.
Outra medida foi entrar com ação ordinária de indenização cumulada com obrigação de reparos. Incluindo aí restituição de danos morais e materiais.
No terreno aterrado, não há nenhuma indicação do responsável pela execução do aterro, como placa de engenheiro responsável, comum de se ver em obras de engenharia civil.
Sem orientação
Este é um exemplo, ao que tudo indica, que chega a ser corriqueiro em Ribeirão Preto, o de construção ou reformas promovidas pelos proprietários dos imóveis sem a devida orientação técnica especializada.
Segundo o presidente regional do SindusCon (Sindicato da Construção Civil), José Batista Ferreira, há dois aspectos a se considerar. O primeiro é que no Brasil ainda não se exige grandes tecnologias. “Qualquer um pode fazer e de qualquer forma. Um servente hoje é o pedreiro amanhã. Há uma mão-de-obra não especializada que prolifera no setor”, avalia.
Outro aspecto é que o dono da obra pensa em levar vantagem. “Ao não contratar um responsável técnico pela obra, um engenheiro, e optar pela mão-de-obra mais barata, ele pensa estar economizando”, afirma.
O problema, adianta, é que as conseqüências de uma obra feita sem orientação de especialista pode provocar sérios problemas, como o que atinge seu Waldomiro e seu vizinho Pedro.
Batista compara: “quando um filho está doente se leva ao pediatra e não ao curandeiro, mas na construção civil não se procuram agentes especializados, e sim mão-de-obra barata, na maioria das vezes até mesmo no mercado informal”.
Para ele, o setor que abriga a mão-de-obra não especializada precisa se organizar em conjunto com ações do Governo Federal que possam promover um amplo trabalho de formação, de capacitação dessa mesma mão-de-obra. “Uma ação em larga escala”, explica.
Para ele, o Governo precisa ver o setor da construção civil como uma grande questão social, onde a informalidade cria mão-de-obra despreparada. Por outro lado, a alta carga tributária impede que as empresas atuem de forma mais adequada, abrindo vácuo para ação dos empreiteiros que contratam esses trabalhadores.
Rachaduras são maiores problemas
Rachaduras em alvenaria são um dos principais problemas detectados pelos peritos nas vistorias que realizam pela cidade. A informação é do engenheiro civil especialista em perícias e avaliações Sérgio Abud. Acostumado a fazer vistorias, Sérgio realiza cerca de 20 perícias por ano.
Outros problemas comuns de se encontrar são recalque da fundação e problemas hidráulicos. “Teve caso de não se saber onde fica o registro de água da construção”, afirma. Muito embora a parte hidráulica e elétrica de uma construção, segundo adianta, apresentam menos problemas do que a de alvenaria.
“Tem servente que vira pedreiro da noite para o dia, e a gente sabe que o servente é aquele que para não ficar parado, sem emprego, faz qualquer negócio para trabalhar”, avalia.
Ainda segundo o perito, a contratação de mão-de-obra sem especialização pode trazer outro tipo de transtorno para o contratante. “É comum ver pedreiro cobrar pelo serviço e não acabar a obra, deixando o dono na mão ou fazendo com que ele pague mais do que o combinado no início”, revela.
A não contratação de profissionais especializados proporciona dois tipos de problemas, os próprios e os que afetam a terceiros. Entre os problemas que podem afetar a própria construção existe a umidade ascendente da fundação devido à falta de impermeabilização.
Aos terceiros, os problemas mais comuns são muros trincados. Aterros realizados sem junta de dilatação e umidades provocadas por falta de impermeabilização.
A falta de responsável técnico faz com que esses problemas surjam cedo ou tarde. O que é barato hoje, sai caro amanhã”, conclui.