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Economia dá sinais de reaquecimento

Nicola Tornatore

Primeiro foram os artigos de vestuário da estação outono-inverno (aumento nas vendas de 3 a 5% no segmento cama-mesa-banho e de 4 a 7% nas confecções masculinas e femininas). Depois, os artigos de higiene pessoal (as vendas de sabonete, creme dental e xampu cresceram de 6 a 12% nas duas últimas semanas). Agora, um novo indício do aquecimento da economia pode ser constatado no ramo de materiais de construção.
José Alberto Taveira Jorge, dono do depósito Irajá e presidente da Acomac (Associação dos Comerciantes de Materiais de Construção de Ribeirão Preto e Região), entidade que representa cerca de 250 depósitos, resume a expectativa positiva do setor em uma frase: “Deu uma animada”. Segundo ele, do dia 10 de maio em diante o movimento nos depósitos de materiais de construção aumentou cerca de 20%. “O que percebemos mais claramente é que tem muita gente iniciando obras de casas”, comenta. “Pessoas que compraram lotes urbanizados em condomínios como o Guaporé ou o Aroeira e mesmo donos de terrenos no Jardim Canadá. Tem muita obra residencial começando”, analisa.
Além dos depósitos, que fazem parte do comércio varejista, distribuidores de materiais de construção, que vendem no atacado para os depósitos, também perceberam um aquecimento no setor. Benedito Lopes Bastos, gerente da distribuidora de tubos e conexões Souza Bastos, de Ribeirão conta que maio teve um expressivo crescimento nos pedidos em relação a abril - da ordem de 70% no volume físico das encomendas. “O aumento não foi no número de clientes, mas no tamanho dos pedidos”. Na comparação com maio do ano passado, as vendas este mês foram cerca de 15% superiores.
Projetos aprovados
O diretor do Departamento de Obras Particulares da Secretaria Municipal da Infra-estrutura, Israel Higino Fávero de Aguiar, credita o aquecimento nas vendas de materiais de construção ao expressivo número de obras aprovadas no último mês de março - mais que o dobro da área aprovada em fevereiro. Em março foram licenciados 122.157 metros quadrados de novas edificações, contra 60.740 m2 no mês imediatamente anterior. “Normalmente você aprova um projeto aqui e um ou dois meses depois é que o comércio vai sentir os reflexos, quando o construtor começa a comprar os materiais necessários à obra”, comenta Higino. Em abril foram licenciados mais 82 mil metros quadrados.

Cenário desfavorável pode comprometer aquecimento
O incipiente aquecimento nas vendas de segmentos do comércio varejista pode não se sustentar, principalmente caso o Banco Central interrompa o processo de redução da taxa básica de juros, a Selic, motivado pela pressão externa -valorização do dólar e subida no preço do petróleo. A análise é do professor de Economia Antonio Vicente Golfeto, colaborador do A CIDADE.
“Na minha opinião a Selic não só vai deixar de cair como pode subir. Esse aquecimento no consumo é basicamente conseqüência de uma elevada liquidez, que por sua vez decorre da queda da remuneração dos títulos de governo. É dinheiro que sai do mercado financeiro, vai para o consumo e pode gerar inflação”, comenta Golfeto. Lembrando que inúmeras pesquisas atestam a queda no poder aquisitivo da população, ele ressalta que esse aumento no consumo “não tem lastro numa melhora na rendado trabalhador nem na redução do desemprego”.
Para Golfeto, a chamada “inflação importada” (aumentos decorrentes da valorização do dólar e da alta do petróleo, ainda não efetivados) pode levar o Banco Central a interromper a trajetória de queda da Selic e até a elevar a taxa nas próximas semanas. “Para a nossa conjuntura econômica, uma melhora na remuneração dos títulos públicos pode ser positiva nesse momento”, diz. Segundo ele, um aumento na taxa Selic pode interromper o atual aquecimento do consumo, sem, porém, derrubar a produção, “cujo aumento está sendo sustentado pelas exportações”, completa Vicente Golfeto.
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