Carla Monique Bigatto |
foto: Jefferson Barcellos A briga entre agentes financeiros ficou acirrada depois da obrigatoriedade dos bancos de investir parte dos rendimentos de poupança em fundos para a habitação. O fato tem gerado novas opções e reacendido antigas práticas. A que volta à tona com força é o financiamento direto entre as partes. Funciona assim: o dono do imóvel, como pessoa física, faz papel de banco, financiando o imóvel para o comprador. Ao invés de receber o dinheiro todo de uma vez, o vendedor recebe um sinal de valor combinado - normalmente 30% do valor do imóvel - e posteriormente embolsa mensalmente as prestações corrigidas com taxas de reajuste pré-estabelecidas. O serviço foi posto em prática na última semana pela imobiliária Fortes Guimarães. João Paulo Fortes Guimarães, diretor da imobiliária, explica que a modalidade de investimento foi bem aceita por quem vende imóveis por causa do retorno garantido. “Nosso contrato define taxa a 1% ao mês. Nenhum outro investimento, como a poupança, garante margem de retorno equivalente”, explica João Paulo. Segundo ele o único risco é o da inadimplência, mas para conter essa hipótese fica definida em contrato a transferência da escritura somente depois de concluído o pagamento. Normatização João Paulo explica ainda que o método de financiamento é legal. “Não cobramos taxas excessivas nem abusamos de nenhuma das partes. É totalmente legal”, afirma. O presidente do Creci-SP, José Augusto Viana Neto, reforça a afirmação. “A negociação direta entre as partes é a melhor prática de financiamento que existe. É com certeza a mais saudável”. Ele conta que a prática, muito utilizada nos anos 60, é totalmente legal, incluindo os métodos de cobrança. Antigamente era praxe a cobrança via nota promissória. A medida ainda vale embora não seja muito utilizada. Viana Neto lembra que esse financiamento foi criado como saída quando a habitação não possuía muitos fundos, capazes de estruturar linhas de financiamento. A taxa de juros, segundo o presidente do Creci, também não tem limite. “O proprietário pode dispor de seu imóvel da maneira que bem entender”. Mesmo assim ele diz que o financiamento direto entre as partes apresenta restrições quanto à situação financeira do interessado. “Esse financiamento requer menos parcelas, o que se traduz em prestações mais altas”, afirma o presidente. Mesmo excluindo classes econômicas mais baixas, o presidente do Creci reafirma os benefícios da modalidade. “Fugir das limitações bancárias já é uma vantagem e tanto”. A imobiliária ribeirão-pretana tem um contrato pré-definido, mas que pode ser moldado conforme a combinação das partes. João Paulo explica que pode ser registrado em cartório. “Nada impede que isso seja feito”. DISPONÍVEIS Modalidade tem cinco ofertas Já na primeira semana de funcionamento da nova modalidade de financiamento a imobiliária Fortes Guimarães oferece cinco imóveis a serem pagos dentro do sistema, dois deles já com negociações adiantadas. O diretor da imobiliária, João Paulo, conta que qualquer pessoa pode vender seu imóvel dessa maneira, “desde que não tenha pressa em receber o valor do imóvel”. Segundo ele, o sistema de pagamento acelera o processo de venda. Normalmente a venda de um imóvel leva cerca de 60 dias para que as negociações comecem a acontecer. “Como o financiamento abrange mais pessoas, as vendas acontecem mais facilmente”, conta o diretor. Financiamento Não há restrições quanto a quem o financiamento será destinado. João Paulo explica que a classe média será a mais beneficiada. Quem já possui um imóvel tem dificuldade em conseguir financiamento através de banco. “Diretamente com o proprietário isso não acontece”, explica João Paulo. Outra vantagem é para os imóveis comerciais, que dificilmente são financiados pelos bancos. A análise de crédito é feita pelos próprios profissionais da imobiliária, alguns com experiência bancária. As exigências são relativamente menores, “o que não diminui a segurança do investimento”. Mas a maior vantagem destacada por ele é a diminuição da burocracia. “As pessoas não querem perder tempo indo em banco”, diz João. Bolsão Os primeiros imóveis oferecidos pelo esquema não são residenciais. Há terrenos de alto padrão, como os disponíveis na City Ribeirão e na avenida Maurílio Biagi, e imóveis comerciais, concentrados próximos ao RibeirãoShopping. A oferta que mais chama atenção é a cota de investimento do Hotel Íbis, também próximo ao RibeirãoShopping. João Paulo explica que o interessado desembolsa os 30% de sinal, paga mensalmente a parcela do financiamento, mas logo no primeiro mês já recebe os rendimentos de volta. É como se o investidor mantivesse seu apartamento disponível no pool do hotel para locação. “É retorno financeiro garantido”, explica Fortes Guimarães. |