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Especialistas descartam bolha no setor imobiliário

A forte valorização dos imóveis no Brasil levou a inevitáveis questionamentos: estamos no meio de uma bolha? Os valores recuarão? Ainda vale a pena comprar para morar ou para investir? Nos 12 meses encerrados em janeiro, os preços médios do metro quadrado no país aumentaram 25,5%, segundo o Índice FipeZap. Essa, porém, foi a média. No Rio de Janeiro, a alta foi de 32,9%, enquanto em São Paulo, de 26,4%, e no Recife, de 34,2%. Observando um período maior - desde janeiro de 2008 - as valorizações são grandes: 158,7% no Rio de Janeiro e 126,5% em São Paulo, por exemplo.


Os percentuais podem assustar em especial aqueles que estão pensando em adquirir um imóvel, mas o presidente do Secovi-SP, Claudio Bernardes, é enfático: "Não existe bolha. Não há mais muito espaço para os valores dos imóveis subirem muito nem caírem", diz.


Um dos dados que refutam a existência de uma bolha é o crédito imobiliário como participação do Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil, de 4,7% (dado de dezembro de 2011), distante do que se observa em pares emergentes ou em nações mais ricas, de acordo com estudo da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).


Em 1990, o Nobel de Economia Joseph Stiglitz definiu o termo "bolha" da seguinte maneira: "Se a razão pela qual o preço é alto hoje decorre apenas da crença dos investidores ou compradores de que o valor de venda será maior amanhã - quando os fundamentos não parecem justificar tal preço - então uma bolha existe". Quando o assunto entra em pauta, é inevitável a lembrança do caso americano. Um estudo realizado pela MB Associados para a Abecip pondera que os EUA contam com particularidades, como a falta de "amarras regulatórias". Isso fez, por exemplo, com que as pessoas tivessem mais informações sobre sua condição financeira do que os bancos. Há ainda os problemas enfrentados depois de 2001, que levaram o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a uma política de taxas de juros baixas. Não é o caso do Brasil.


Para Bernardes, do Secovi-SP, neste ano o aumento dos preços dos imóveis no país deve ficar em linha com o crescimento da economia. Porém, ele ressalta que sua previsão se refere a uma média, uma vez que casas e apartamentos não são commodities e seus preços variam a cada país, estado, cidade e bairro. "Os valores são heterogêneos e dependem da relação entre oferta e demanda", diz. "Normalmente, no caso de São Paulo, bairros já valorizados têm um potencial de apreciação menor, enquanto localidades em desenvolvimento podem ainda passar por um boom nos preços, como Vila Leopoldina e Campo Grande."


Novas estações de metrô, shopping centers e supermercados tendem a valorizar os bairros, explica a diretora comercial da Lello Imóveis, Roseli Hernandes. Há ainda regiões que estão passando por uma modernização, levando ao aumento nos preços. "Este é o caso da Mooca, na zona leste de São Paulo, que antes tinha muitos galpões e imóveis comerciais e agora está recebendo novos empreendimentos", exemplifica. Entre 2009 e 2011, os imóveis da Mooca ficaram em média 80% mais caros, mas houve casos em que a valorização chegou a 175%, conforme levantamento da Lello Imóveis. Roseli opina que os preços dos imóveis da região podem continuar subindo nos próximos anos. Por outro lado, em localidades em que os valores já aumentaram demais, devem ficar estáveis ou registrar variação menor.


Na cidade do Rio de Janeiro, o vice-presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), Rubem Vasconcelos, avalia que o custo do metro quadrado deve seguir avançando, devido à demanda crescente. "Há alguns fatores contribuindo para isso: a ocupação das favelas por forças de segurança e os eventos esportivos, a Copa do Mundo e a Olimpíada", diz. "A cidade está recebendo obras de melhoria na infraestrutura urbana e o mercado imobiliário está acompanhando."


Vasconcelos também não acredita em uma bolha. "No Rio, os valores irão seguir em alta por pelo menos mais cinco anos e depois podem estagnar", avalia. Para Roseli, da Lello, o declínio dos preços também está "fora de cogitação". Essa perspectiva corrobora a pesquisa da Associação de Investidores Estrangeiros no Setor Imobiliário (Afire, em inglês), que mostrou que o Brasil é o segundo país com maior potencial de valorização em 2012, perdendo apenas para os EUA. Em terceiro lugar, está a China. Na edição anterior do estudo, o Brasil tinha ficado na quarta posição. Os respondentes do estudo são de 21 países e possuem mais de US$ 874 bilhões em ativos do setor imobiliário.


Roseli opina que investir em imóveis pode ser uma boa opção, mas para quem tem um horizonte de, no mínimo, três anos. Os imóveis não são ativos líquidos, que são vendidos facilmente da noite para o dia. Além disso, é preciso tomar alguns cuidados, como analisar a tendência de valorização do bairro, o que pode ser feito com a ajuda de um consultor imobiliário.


Já quem acredita ser melhor morar de aluguel e economizar para futuramente comprar um imóvel à vista precisa colocar na conta uma questão: em primeiro lugar, não dá para saber o quanto um imóvel vai se valorizar; depois, pode demorar décadas para que o objetivo seja concretizado, diz o professor de Finanças da FIA-USP, Keyler Carvalho Rocha. Existe, porém, outra possibilidade: "Os preços também podem recuar, por exemplo, se o país passar uma crise econômica", completa.



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