A crise dos créditos subprime mostrou como é necessário acompanhar com muita atenção o setor da construção civil, que trabalha com empréstimos de longo prazo. O Brasil não se encontra na mesma situação dos EUA de 2008: os financiamentos são feitos a uma taxa fixa - com exceção dos hipotecários - e a parte variável é a TR, cuja flutuação é insignificante. Isso não quer dizer que o setor está ao abrigo de qualquer crise.
O preço de imóveis novos teve alta de 43% em um ano, em total desproporção com a alta da inflação. Em primeiro lugar, por causa da forte demanda, que permitiu alta especulativa do preço dos materiais de construção, sustentada pela alta do preço do terrenos.
Essa alta, que sobrevém justamente quando começa a deslanchar a construção de casas populares, teve um efeito previsível: as vendas de residências novas, segundo o Secovi de São Paulo, caíram 21% de março para abril, embora tenham sido vendidas mais unidades do que em 2009; e no quadrimestre foram vendidos 11.697 imóveis, 72,4% a mais do que no mesmo período do ano anterior.
Não se pode falar de uma crise imobiliária - apenas os dados de abril fazem soar um sinal de alarme, que se deve levar em conta.
Existem três problemas no setor da construção civil. O primeiro diz respeito a todas as empresas que participam da construção e oferta de imóveis. Se, de repente, as compras de imóveis recém-construídos parassem, elas se encontrariam numa situação delicada, por se terem endividado e ficado sem comprador. A situação tornar-se-ia delicada se isso acontecesse com um importante número de construtores: a única solução seria oferecer os imóveis a um preço mais baixo e, em certos casos, com perdas.
Uma outra categoria de compradores que corre risco é a dos que compraram imóveis com o objetivo de especular e que, com a alta de preços, não acham para quem vender.
A mais longo prazo, há o risco dos atuais proprietários que compraram unidades habitacionais a um preço elevado e que, em dificuldades para honrar seus compromissos, se verão na obrigação de oferecê-las a um preço bem inferior ao da compra.
Não estamos, por enquanto, diante de nenhuma dessas situações, mas convém acompanhar com atenção a evolução do mercado imobiliário e, especialmente, não permitir que empresas financeiras se aproveitem de um contexto anormal para refinanciar, a um custo alto, as prestações em atraso.
O Estado de S. Paulo - 19/06/10