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Mercado explora valor conceitual de empreendimentos.

GIOVANNY GEROLLA

Para driblar as desvantagens de um lançamento imobiliário em localização pouco valorizada, os incorporadores revelam --ou criam-- aos olhos do comprador condições favoráveis a essa escolha.

A proximidade de um bairro mais chique é uma delas. Desse benefício se vale, por exemplo, a região de Santa Cecília (centro de São Paulo), colada no grã-fino Higienópolis --e mesmo quem compra para revender percebe essa estratégia.

As vendas do empreendimento Jardins de Higienópolis, que apenas emprestou o nome do vizinho e fica, de fato, em Santa Cecília, foram muito rápidas, avalia o corretor Fernando de Figueiredo, 36. "De 210 unidades, 25 foram compradas por investidores", revela.

O bairro de Santa Cecília foi premiado com outro atrativo alavancado pelo mercado: o de ter um valor especial, único, para um público mais restrito.

"O nosso comprador é "descolado", dinâmico e tem vida cultural intensa", aponta a consultora da Klabin Segall Marley Barros, 40, responsável pelo Cult, lançado naquela área.

Para esse comprador intelectualizado, o incorporador acena com valores menores e acesso facilitado --de metrô, por exemplo-- a cinemas e teatros.

"No Itaim ou nos Jardins (zona oeste), os preços são muito altos", calcula Barros.

Porém, onde a maioria são os solteiros ou separados, as dimensões também diminuem: 37 m2, com um dormitório, que custam a partir de R$ 87.900.

Barulho

Já nos pontos por onde passam o trem, o metrô ou as linhas aéreas, a solução é lançar mão de artifícios construtivos.

"Não chega a ser uma má compra", opina Wilson Gomes, da ABMM. "Os lançamentos oferecem tratamento acústico para janelas, além de aeroportos não funcionarem à noite."

Contudo, há quem reclame do barulho noturno em Congonhas. Os filhos da enfermeira Elaine Simões da Silva, 39, não conseguem assistir à televisão depois de chegarem da escola e têm dificuldades para dormir.

A mãe, ex-moradora de Moema, saiu das proximidades do aeroporto para comprar um apartamento novo ainda mais grudado nele, no Jabaquara (zona sul) --só que, desta vez, de frente para o pátio do metrô.

"Eu estava tão habituada ao barulho que, quando visitei o imóvel, nem notei", declara. "Durante o dia, os aviões, e à noite, trens que estacionam. Ultimamente, com os atrasos nos vôos, "ouvimos" o aeroporto até de madrugada."

Sempre é possível, porém, ver o lado bom. Silva diz que, além de estar na saída do metrô para o centro e próximo de todo tipo de serviço, o imóvel de dois dormitórios e 75 m2, comprado por R$ 139 mil no lançamento, hoje já vale R$ 180 mil.

E, a favor do parecer de que não faltam compradores, esteja onde estiver o imóvel, José Viana Neto, presidente do Creci-SP, lembra que, "nos lugares de muito barulho, o valor do imóvel tende a ser estável, com altas rotatividade e liquidez".

"Em bairros da zona norte onde há enchentes, o número de imóveis para alugar ou vender é sempre muito baixo, não há vagos. O comprador sempre espera o morador anterior sair para poder entrar", conta.
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