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Sobre a concentração de renda.

O urbano é sempre o retrato vivo das desigualdades que encerram as relações sociais. País com renda razoavelmente bem partilhada não tem cidade – como se vê no Rio de Janeiro, em São Paulo e mesmo em Ribeirão Preto – onde coexistem bairros elegantes contracenando, em termos urbanísticos, com outros bairros paupérrimos. Vejam – para não sairmos daqui de Ribeirão Preto – alguns bairros ou loteamentos da zona sul e façam a comparação com outros, tanto da zona norte como das zonas leste e oeste. A diferença é visível. Não causa revolta porque sabe-se que “revoltar-se é não compreender”. Quando se compreende pode-se partir para mudanças radicais. Que, em prazo não muito longo, revertem a situação.
Não é o tributo o melhor instrumento para se partilhar renda. No caso de se tentar partilhar riqueza, menos ainda. Ainda mais num país marcado pelo patrimonialismo. Estado patrimonial é aquele em que as finanças públicas e as finanças privadas se imbricam completamente. Em Estado com esta característica, o processo de transferência de renda é às avessas. Os pobres transferem renda para os ricos.
Mas é esta concentração de renda que ainda está permitindo a existência de transportes individuais em cidades médias e grandes. Se a renda fosse distribuída mais equidosamente, muito mais pessoas poderiam ter veículos próprios. Adicionado à frota, bem maior do que a infra-estrutura de artérias – ruas, avenidas – o automóvel adquirido congestionaria mais ainda o trânsito. Torná-lo-ia inviável. Nas grandes cidades, como São Paulo, a velocidade média desenvolvida pelos motoristas equipara-se à dos tílburis do século 19, por causa dos congestionamentos permanentes. Com mais automóveis, o trânsito simplesmente seria inviável.
Fiquemos com Ribeirão Preto cuja frota formal supera os 280 mil veículos. Se a renda permitisse que mais de 80 mil pessoas – que não dispõem de condições financeiras atualmente para adquirir um automóvel – tivessem sua própria condução, claro que teríamos mais problemas de trânsito. Que exigiriam solução do tipo adotado por São Paulo, com o estabelecimento de rodízio.
Um paliativo – nunca uma solução definitiva, que cremos não existe – seria impedir, pelo menos nas artérias de maior fluxo de veículos, estacionamentos em ambos os lados das ruas por onde transitam os coletivos, os ônibus urbanos. Claro que muita gente vai reclamar. Mas é uma solução transitória para um problema que, mantidas as condições atuais, não apresenta solução visível.
O problema é falta de espaço. Que dificulta o bom uso do tempo. É por isto que todos achamos que o farol vermelho demora sempre muito mais do que o verde. É ansiedade mesmo.

Vicente Golfeto


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