Os imóveis da capital estão cada vez menores e mais caros. Dados divulgados ontem pelo Sindicato da Habitação (Secovi-SP) indicam que a valorização imobiliária e o aumento do número de lançamentos de unidades com até 65 m² acabam por deixar o consumidor diante de três possibilidades: gastar mais na compra da casa própria, morar mais longe da região central ou adquirir um imóvel menor.
Segundo o Secovi-SP, de 2005 para cá, o valor médio do metro quadrado dos lançamentos na cidade de São Paulo subiu 30,6%. Passou de R$ 3.016,75, em média, para R$ 3.939,88. Isso significa dizer que a valorização imobiliária, mais concentrada nos últimos dois anos, praticamente acompanhou a inflação do período (28,4%) - embora bairros centrais tenham registrado aumentos mais expressivos. No entanto, na prática, isso resultou em uma perda do poder de compra do consumidor: quem há cinco anos gastaria R$ 100 mil para adquirir um imóvel, teria de pagar R$ 130 mil pelo mesmo apartamento agora.
Secovi mostra que o valor do metro quadrado dos lançamentos imobiliários na capital paulista sofreu um reajuste superior a 30% desde 2005
Ou então poderia escolher uma unidade menor. Os imóveis de metragem inferior são relativamente mais baratos e, por isso, mais acessíveis aos consumidores de renda média e baixa. Isso explica, em boa medida, porque 45,5% dos lançamentos na capital têm até 65 m² de área útil, geralmente com dois dormitórios.
“Vemos que hoje os lançamentos estão em sintonia com a demanda. Ou seja, são voltados principalmente para os trabalhadores que querem realizar o sonho da casa própria e só agora têm acesso ao crédito por meio de programas como o ‘Minha Casa, Minha Vida’“, afirma João Crestana, presidente do Secovi-SP.
O fato é que o mercado imobiliário está mudando. Essas duas tendências - o encarecimento dos imóveis e a oferta de unidades menores - vieram para ficar.
O primeiro fenômeno se deve, principalmente, à escassez de terrenos na cidade. Algo irreversível. “Não há mais terrenos baldios em São Paulo, apenas algumas pouquíssimas exceções”, diz Crestana. “Devido à essa limitação, o preço do terreno é hoje um dos fatores que mais contribuem para que o preço do imóvel suba.”
De acordo com Crestana, historicamente, o preço do terreno representava entre 10% e 15% do valor total do imóvel. Hoje, em alguns casos, já corresponde a 40%. “E isso só tende a aumentar, como aconteceu em todas as grandes metrópoles mundiais. Não há como reverter esse quadro”, emenda Celso Petrucci, economista-chefe do Secovi-SP.
ALÉM DA FRONTEIRA - Com falta de terrenos na capital e o consequente encarecimento dos imóveis na cidade, construtoras e consumidores estão olhando cada vez com mais interesse para outras cidades da região metropolitana. Elas se transformaram em alternativa para quem quer ter sua casa própria.
Em 2000, os municípios da Grande São Paulo (exceto a capital) respondiam por 21,9% do total de unidades lançadas na região. Em 2009, essa participação já havia subido para 49%. Só em março de 2010, foram vendidos 3,5 mil imóveis novos, quase 35% a mais que em fevereiro (2,6 mil unidades) e 60% a mais que no mês de janeiro (2,2 mil). A metade tinha um ou dois dormitórios.
Jornal da Tarde - 18/05/10